quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Os animais vão para o Céu?

Eita, questão difícil, não é mesmo? Há muita discussão entre os teólogos sobre o que acontece com os animais depois que eles morrem, mas esta questão, em particular, é fácil de responder:
Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade.
Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.
Eclesiastes 3:19 e 20
A Bíblia é clara em declarar que o que acontece com o homem também acontecerá com os animais, e vice-versa (veja mais em alma, espírito e espírito do homem e espírito de Deus). Mas só saber que os animais vão para o pó assim como o homem não satisfaz nossas inquietações.

As perguntas que ainda restam seriam: Haverá animais no Céu? Os nossos mascotes participarão da ressurreição? Teria algum tipo de redenção para os animais? Essas são perguntas que perturbam os amantes dos animais.

A Bíblia não declara em nenhum momento que os animais estarão na atual morada de Deus, mas claramente demonstra que os mesmos estarão na Terra restaurada e Novo Céu, mas com o comportamento completamente melhorado (Leia Isaías 11:6-9).

Apesar de termos a certeza de termos animais na Nova Terra e Novo Céu (isto porque a Terra será renovada e agora será o trono de Deus, ou seja, Nova Terra e Novo Céu são o mesmo lugar) não sabemos se serão os mesmos animais que nos fizeram companhia um dia. Mas uma certeza temos, Deus ama cada ser de sua criação muito mais do que nós os amamos.

Lembrem-se dos animais da arca, os quais Deus guardou da destruição eminente. A obediente jumenta de Balaão, a qual recebeu de Deus o dom de falar para que se defendesse de seu amo. Lembrem-se também das palavras de Jesus, ao falar que o Pai do Céu alimenta as aves (Mateus 6:26). Deus ama todas as suas criaturas, inclusive a Terra:
E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra.
Apocalipse 11:18
A terra foi amaldiçoada por causa do pecado humano (Gênesis 3:17). Ela tem sofrido, juntamente com os animais, os efeitos da maldade humana. Se a mesma irá ser renovada, é bem possível que os animais que sofreram inocentemente também voltem a viver. Melhor ainda, se a Terra irá ser exaltada como Novo Céu, e nós, tristes pecadores, reinaremos juntos com Cristo, os animais que deram sua vida por causa da maldade humana também podem ser renovados e melhorados, não é mesmo?

Acredito que isso seja possível. Acredito que a Bíblia não fala mais claramente sobre isto pois seu maior objetivo é nossa salvação. Talvez Jesus fale para nós quando tratamos desse assunto assim como ele falou com Pedro a respeito de João:
Por que te importa o que farei com estes animais? Segue-me tu. Não confias em mim? Não são eles minhas criaturas? Será que você daria melhor destino a eles do que Eu posso dar? Segue-me tu.
João 21:22 [parafraseado para a situação]

terça-feira, 12 de outubro de 2010

As parábolas do rico insensato, do administrador infiel e do rico e de Lázaro

Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Lucas 12:20
 Desde a Torá, passando pelos profetas e chegando a boca de Jesus a Bíblia vem anunciando o erro dos filhos de Deus referentes a cobiça e acomulo de dinheiro. Não foi a toa que a igreja católica por tanto tempo foi contra o capitalismo.

Vemos que o apego ao dinheiro não é um mal que ocorre só aos que são apegados ao mundo secular, mas também entre os que crêem em Cristo. A história do jovem rico, registrada em todos os evangelhos sinóticos (Mateus 19:16-30; Marcos 10:17-31 e Lucas 18:18-30), mostra muito bem como um homem que acredita guardar todas as leis está falhando no amor para com o próximo, deixando-o em falta.

Em Lucas 12:13 à 21, Jesus conta a parábola do administrador insensato para um homem que lhe pede para convencer seu irmão a dividir a herança com ele. Jesus deixa claro para ele que lutar por mais e mais bens não é o fundamento desta vida, principalmente quando isto lhe tira as riquezas celestes.
Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
v. 15

Já em Lucas 16 encontramos uma estrutura argumentativa semelhante a de Lucas 15, mas com um novo tema. Enquanto Lucas 15 ( veja mais aqui) trata da importância do homem para Deus, Lucas 16 mostra como o homem falta em amor para com seus semalhantes e como isso deveria mudar.

A parábola do administrador infiel, também nomeada "do administrador astuto" [NVI], choca a primeira vista, pois parece um elógio as práticas infiéis do administrador. Longe disso, a intenção clara do texto é mostrar como um homem comum, sabendo das suas limitações e dificuldades de sobrevivência (veja o v. 3), encontra, na utilização dos recursos que ainda tem em mãos, um meio de conquistar amigos para o consolarem no tempo de miséria.

Esse tipo de pensamento tão comum é posto em contraste com o sentimento de acúmulo tão presente na plateia de Jesus.
E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
v. 9
 Agora Jesus fala claramente a seu público que eles que receberam a luz deveriam ser mais sábios e já que consquistaram tantas riquezas em cima de injustiças, eles deveriam gastar as mesmas para conquistarem amigos para que quando chegarem aos seus eles tenham quem os recebe em suas casas.

Perceberam que estas pessoas parecem não terem abrigos no Céu. Tabernáculos, notem o plural, aqui se refere as tendas, habitações, não ao santo templo que inicialmente era em tenda. Esses homens não conseguirão sequer uma posse material no Céu, pois não acumulam tesouros valiosos a Deus.

Na continuação do capítulo 16, vemos que Jesus deixa claro que não dá para se viver para as riquezas e para Deus ao mesmo tempo. Ou vive-se com o acumulo egoísta ou se pratica a misericórdia para com os mais necessitados.

Nos versos 14 e 15 é mostrado a fúria dos fariseus ao se referir daquela forma a eles e a suas riquezas. Jesus respondeu a eles mostrando que a forma que eles pensavam era oposta a que Deus desejava para os homens. Dos versos 16 à 18, Jesus demonstra que até João fora pregado os ensinamentos do Antigo Testamento e que o reino de Deus chegou, ou seja, Jesus, o Messias, prometido como rei, havia chegado, para começar a reinar em nossos corações até ser entronizado. Também deixou claro que isto não tira o valor de tudo que foi escrito, pois nada seria mudado. No último verso ainda dá uma cutucada no mal costume do homem de se divórciar, mostrando tanto a mulher quanto o homem estariam em adultério caso contraíssem um novo casamento, contrariando a prática do momento.

Ao citar a Lei e os profetas, Jesus também remetiu-se ao que fora pregado até então sobre o amor ao próximo demonstrado na Torá (Levítico 19:18) e os diversos apelos para a ajuda de pobres e viúvas (Isaías 58:7).

Jesus conclui o discurso com a parábola do rico e do Lázaro. Infelizmente, algumas pessoas vêem este conto de Jesus como uma história real e não uma parábola, forma citada claramente por algumas traduções (NTLH, ARA e Bíblia de Jerusalém). A Bíblia de Jerusalém chega a citar em sua nota:
História-parábola, sem qualquer nexo histórico.
p. 1818, nota e)
E está é a verdade, pois a parábola não se encaixa nem com a doutrina bíblica da morte, ressureição e vinda de Cristo, nem com a crença do inferno grego-latino, mas demonstra ser um misto dos dois. Não tem valor doutrinário, mas a criação desta quimera nos ensina grandes lições sobre a Bíblia e o dinheiro.

O rico, acomodado com a situação do pobre Lázaro, não contribui para aliviar a dor do mesmo, tendo sua sorte trocada quando morrera. Ao invocar sua descencia abraamica para o próprio profeta ele mostra claramente que é impossível se fazer qualquer coisa para que sua situação atual mude. Isto nos ensina que o nosso destino celeste se define nesta vida.

Ao ver a dureza de seu castigo e a chance de seus irmãos serem avisados para que eles não viessem para este lugar de sofrimento, ele pede para ir avisá-los ou que outra pessoa o vá. Em sua mente, Deus não fora claro o suficiente com ele e, se o fosse, ele não estaria onde ele está no momento.

Mas Abraão demonstra que isto não é verdade. A Bíblia sempre mostrou que devemos cuidar dos mais necessitados e que Deus não teria piedade dos que ignorassem seus filhos menos abastados. Ainda mostrou que nenhum milagre, inclusive a ressurreição de mortos, poderia converter alguém que ouve os apelos do Espírito Santo ao ler a Bíblia.

A parábola conclui a ideia que estava sendo discutida por todo o capítulo. Nós não temos amado como Jesus vem nos amando. O pior de tudo isto é que os apelos de Jesus não foram doces, como esperado da pessoa dele, mas ríspidos, pois suas histórias apelavam para o egoísmo humana para que este ajudasse o próximo. Ele quis mostrar que mesmo se seguisse a lógica egoísta da vida deles eles deveriam parar de acumular riquezas e ajudar o próximo.

Eu só desejo que eu e você não precisemos de receber um apelo ao nosso próprio egoísmo para fazermos o bem, mas o façamos guiado pelo Espírito bondoso de Deus.

domingo, 10 de outubro de 2010

6- Conclusões, como aplicar estes estudos na igreja hoje?

Você já ficou preocupado com se divorciar e nunca mais poder casar?

Descobriu que Jesus não gosta de divórcio e largou a esposa atual para voltar a primeira?

Está tristemente só porque não pode se casar porque foi abandonado e o cônjuge fugiu de casa?

Teme estar num pecado eterno porque se casou novamente e está constantemente em pecado?

Já viu alguém se separar e ficar esperando o cônjuge se relacionar para que este tenha o nome removido dos membros ativos da igreja? Ou teve um namoro secreto pelos mesmos motivos?

Já foi proibido de se rebatizar por estar no segundo casamento?

As tentativas de manter o entendimento tradicional das palavras de Jesus preocupam as religiões cristãs, fazendo com que elas criem regras para cumprir as palavras de seu salvador, acrescentando, infelizmente por muitas vezes, mais sofrimento ao que por si só já é doloroso.

Desde a primeira vez que me deparei com os versos de Jesus sobre o divórcio senti muita dor pelo que o texto a primeira vista me dizia .

Algumas igrejas proíbem terminantemente o divórcio com novo casamento, mesmo em caso de adultério. Outras permitem que a parte inocente se casa de novo, mas excomunga a parte culpada para sempre do rol de membros.

A dificuldade é tanta ao lidar com esses versos que alguns chegam a crer que este adultério praticado com o segundo casamento é um pecado pior que o assassinato, já que a única maneira de parar de pecar é se separando do novo (a) esposo (a).

Acredito que o estudo de Deuteronômio 24:1-4 (veja aqui) já deixou claro que o adultério praticado ao se casar novamente depois do divórcio não tem o mesmo peso que nos demais casos de adultério.

Ao vermos todo o contexto bíblico, também notamos que Deus sempre age com misericórdia, inclusive, só há salvação por haver misericórdia. Por isso que acredito que deveríamos ser mais compassivos e misericordiosos ao julgarmos esses casos.

Jesus queria que nós vivêssemos segundo seus mandamentos, mas o amor sempre foi sua maior pregação. O perdão é a maior pregação do evangelho. Perdão pelos pecados é o que a cruz significa. Perdão pelo pecador é o que temos que pregar e viver.

Davi pecou com a mulher de Urias e Deus o perdoou. A mulher adúltera também fora perdoada tanto por seus acusadores, ao pensarem em seus próprios pecados, quanto por Jesus, o qual nunca pecou.

A samaritana no poço de Jacó já tinha sido repudiada (divorciada) cinco vezes, fazendo com que nem se importasse mais em realizar novo casamento para se entregar ao sexto homem. Foi essa mulher que Jesus lhe deu as novas e a mesma tornou-se a maior evangelista samaritana que temos notícia.

Observe o texto de Oseias, o qual havia se casado com uma prostituta (talvez o casamento seja só simbólico) por ordem de Deus, para mimetizar a relação de Deus com Israel. Mesmo depois de casados, sua mulher o abandona para prostituir-se novamente. Oseias, mesmo sendo a parte inocente da história, vai atrás de sua amada, dizendo:
Eu te desposarei a mim para sempre,
Eu te desposarei a mim na justiça e no direito,
no amor e na ternura.

Oseias 2:21
Por toda a Bíblia, este verso só é expresso ao se referir a uma virgem que iria ser desposada, e é aplicado a uma prostituta que já tivera dois filhos. O que podemos aprender disto? Que o amor nos purifica novamente. Não o corpo (por enquanto), mas a dignidade.

Dessa forma, gostaria que os líderes religiosos pensassem em tudo que foi dito nos seguintes termos:

a) ensinar as pessoas o ideal divino, desde a infância para inspirá-las a terem uma vida mais próxima de Deus e menos danosa a si mesmo e ao próximo;

b) estabelecer normas segundo o princípio demonstrado na Bíblia a respeito do divórcio e segundo casamento, lembrando que o princípio divino do perdão não permite remover para sempre nenhum membro, não importa o nível do pecado praticado.

Desafio grande, mas necessário para diminuirmos um pouco o excesso de sofrimento que vemos em nossas igrejas.
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5- Se é assim, é melhor não casar!

Até aqui, em nossa exegese, vimos que o adultério é mais abrangente do que muitos religiosos pensam. Vai desde o ato mais sórdido, passando para a pluralidade de companheiros até o pensamento das pessoas.

Dentro dessa gama de impurezas sexuais, segundo a Bíblia, o segundo casamento entra no mesmo.

Jesus, em suas declarações encontradas em Mateus 19 (veja aqui), esclarece que o divórcio expõe ambos ao adultério, quando o mesmo já não foi cometido.

Como só o homem poderia dar carta de divórcio até então, era dele a responsabilidade da mulher se contaminar com outro parceiro depois do divórcio.

Essa declaração era tão contrária aos costumes da época (mas não dos de Deus, como já visto) que os discípulos soltaram a seguinte pérola:
Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.
Mateus 19:10
Incrível, né? A sociedade da época estava tão acostumada com a desigualdade de direitos entre homens e mulheres que quando Jesus iguala um pouco o placar, eles gritam: Maldição! Não vale a pena casar.

Esta frase dita pelas pessoas mais próximas de Jesus só vem confirmar o que o próprio Jesus disse a respeito da carta de divórcio: que ela foi dada pela "dureza dos corações".

Assim é hoje! Não queremos aprender a amar e a perdoar. Queremos que as coisas saiam do jeito que queremos, senão cada um pro seu lado. Nem nos esforçarmos mais para mantermos nossos relacionamentos, principalmente o casamento, pois "se não der certo separa", não é mesmo?

A dureza do coração humano está fazendo com que a maioria da sociedade se torne intolerante e, infelizmente, infelizmente mesmo, entre os discípulos de Cristo, hoje chamado cristãos, não é nada diferente, quando não é pior do que entre os descrentes.

Além da dureza, havia uma lógica nas palavras dos discípulos que eu ouvi muito em minha vida: "Aquele que ainda não começou uma vida sexual consegue viver sem mulher, mas aquele que já se casou, não consegue viver sem". Por isso não devemos casar. Veja a resposta do Mestre:
Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.
(Mateus 19:11 e 12)
Apesar da revolta demonstrada pela resposta dos discípulos, Jesus tentou acordá-los com a realidade. Tem pessoas que poderiam seguir as palavras dos discípulos, já outras não. Jesus reconhece aqui que há pessoas que não conseguiriam ter uma vida equilibrada sem uma esposa, outros sim. Cada caso é um caso.
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sexta-feira, 8 de outubro de 2010

4- Carta de Divórcio: A Discussão é levada a Jesus

Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite.
Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.

Mateus 5:31 e 32
Já no Sermão da Montanha Jesus falou do tema do divórcio e foi categórico em sua afirmação. Tão categórico que talvez isto tivesse inspirado os inimigos a um novo embate.

São quatro os textos que tratam do divórcio nos evangelhos: Mateus 5:31 e 32, como visto acima; Mateus 19:1-12; Marcos 10:1-12; e Lucas 16:18.

O texto acima afirma, assim como em Deuteronômio 24:1-4 (veja aqui), que o homem que repudia sua mulher a expõe ao adultério (verifique na ARA). Neste sentido, a tradução da NTLH é muito esclarecedora:
Mas eu lhes digo: todo homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, será culpado de fazer com que ela se torne adúltera, se ela casar de novo.
Essa declaração com certeza mexia com o coração de muitas pessoas, assim como mexe até hoje.

Sabendo do posicionamento de Jesus, os fariseus foram até Jesus com um plano em mãos. Este relato está tanto em Mateus 19 quanto em Marcos 10. Estudaremos mais a fundo o texto de Mateus:
Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?
v. 3
Vejam que a pergunta dos fariseus já nos propõe saber qual é o posicionamento deles a respeito do assunto. Eles acreditavam no posicionamento ensinado pela escola de Hillel (veja mais aqui), ou seja, pode-se dar a carta até para a esposa que queimasse a comida.
Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. v. 4-6
A resposta de Jesus, remetida a Gênesis, como já estudamos aqui,  confirma o plano divino para a sexualidade humana.

Nessa resposta, Jesus está claramente dizendo aos fariseus e a plateia presente: Não, não é lícito. Divorciar-se não é a vontade de Deus. Isto era tão claro e nítido, que o era esperado pelos fariseus, por isso eles atacaram com a seguinte pergunta:
Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? v. 7
Ui! Eles jogaram a isca e Jesus mordeu. Como a autoridade de Jesus poderia se suster perante a própria palavra de Deus? Agora suas palavras teriam que ser desfeitas ou Ele deveria se mostrar contrário a palavra de Deus. Veja agora a resposta do Mestre judeu:
Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim.
Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.

v. 8 e 9
Não foi uma ordem orquestrada por Deus, mas uma solução em meio a dureza do coração do homem. E do homem, não no sentido de humanidade, mas do macho da espécie mesmo, pois só o homem podia escolher se separar ou não. Mas Jesus estava agora esclarecendo que queria o ideal divino, e não o remendo.

O verso 9 nos traz novamente que o novo casamento é um ato de adultério. Sim, não é um novo mandamento de Jesus, como se ouve por aí, mas uma exegese profunda do texto de Deuteronômio, sem esquecer os demais textos da Bíblia.

Isto realmente foi impressionante! Ao invés de mostrar que sua autoridade vinha dEle mesmo, Ele mostrou que suas palavras, que pareciam novas a uma plateia que nunca tinha ouvido, estavam totalmente de acordo com o texto bíblico.

A conhecida cláusula de exceção, a "fornicação", vem da palavra grega porneia, que quer dizer "relações sexuais ilícitas", não deve ser vista como um bom motivo para o divórcio e novo casamento por não haver adultério, afinal, quando nos casamos de novo, mesmo que fomos traídos no casamento anterior, ainda estamos entrando em adultério, mas não nos é atribuído culpa por isso.

Uma união com uma nova pessoa enquanto outra que nós copulamos é adultério. Inclusive, se uma pessoa é virgem e se une a uma que já se uniu a outra também, a virgem também comete adultério (Marcos 10:11 e 12 e Lucas 16:18). Destes textos, pode-se concluir que poligamia também se enquadra em adultério.

Mas, assim como vimos em Deuteronômio 24:1-4, Deus permite que a parte que foi exposta ao adultério não se sinta culpada.

Veja que Jesus não discute punição, mas interpretação bíblica e culpa, pois ele não está dizendo que o adultero deve ser morto, pelo contrário, há perdão para o mesmo como veremos na parte 6 desta série de estudos.
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3- A Lei do Divórcio, um estudo de Deuteronômio 24:1-4

Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa.
Se ela, pois, saindo da sua casa, for e se casar com outro homem,
E este também a desprezar, e lhe fizer carta de repúdio, e lha der na sua mão, e a despedir da sua casa, ou se este último homem, que a tomou para si por mulher, vier a morrer,
Então seu primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar a tomá-la, para que seja sua mulher, depois que foi contaminada; pois é abominação perante o SENHOR; assim não farás pecar a terra que o SENHOR teu Deus te dá por herança.

Deuteronômio 24:1-4
No tempo de Jesus, havia duas tradições judaicas provindas de escolas com pensamento diferentes sobre o texto de Deuteronômio citado. Elas são Shammai e Hillel.

A disputa interpretativa dessas duas escolas era baseada na expressão "encontrar coisa indecente". Vejam o verso em outras versões:
Se um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por ter ele achado coisa indecente nela...
ARA
Pode acontecer que um homem case, mas depois de algum tempo não goste mais da esposa porque há nela alguma coisa que não agrada a ele.
NTLH
Se um homem casar-se com uma mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova...
NVI
Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta, logo depois, não encontra mais graça a seus olhos...
Bíblia de Jerusalém
A escola de Hillel acreditava que o homem podia se divorciar por qualquer motivo, seja ele de natureza sexual ou não. Já a corrente de Shammai acreditava que o divórcio só era permitido por ato sexual ou exposição sexual indecente.

Analisando o termo hebraico ʿerwat dabar (coisa indecente), podemos entender melhor as especificações do termo. A palavra ʿerwat tem o significado de nudez, nudismo, genitália. Muitas vezes ela foi usada como eufemismo do relacionamento sexual, mas no caso o termo usado seria "descobrir a nudez" e não "ver... a nudez" como temos acima.

Ao verificar a significação desta palavra e seu uso em outros versos bíblicos (Êxodo 20:26, Lv 20:18 e 19, por exemplo), deixa-nos claro que a escola de Shammai tinha a interpretação mais acertada do verso bíblico, apesar de ainda falhar em um ponto: a relação sexual adultera era punida com a morte, não com o divórcio. Por isso, não era um relacionamento sexual com outro que traria o divórcio.

Ou seja, o texto sobre o divórcio não trata do sexo extraconjugal, mas de situações em que a exposição de partes íntimas da esposa fizessem com que o marido a rejeitasse.

Mas nossa análise não termina aqui. Apesar da análise descartar o liberalismo da escola de Hillel, o qual permitia que uma mulher fosse repudiada por queimar uma refeição, a análise leva a uma conclusão muito mais liberal se comparada a da maioria dos estudiosos modernos. Afinal, divorciar só é aceito, e em só algumas religiões, por traição. Aqui vemos que traição não pedia divórcio, mas morte.

Os demais versos, tratam do segundo casamento da mulher repudiada. Veja que com a carta de divórcio ela tinha o direito legal de contrair novo casamento. Mas caso este novo marido morra ou a repudie também, o primeiro marido não pode voltar para ela.

Vejam que esta lei de divórcio não é uma concessão para o homem rejeitar sua esposa, mas uma proteção contra essa rejeição, pois era uma maneira da a mulher não ficar abandonada. A carta daria direito a mulher para se casar com outro, não sendo forçada a ficar solteira, que na época era sinônimo de desamparo. Deus ama e se preocupa com todos, não é mesmo?

Note que quem é punido, caso o divórcio ocorra, é o rejeitador, pois ele não pode voltar atrás caso ela se case novamente. Mas qual é o motivo dessa punição? A resposta do verso é "pois é abominação perante o Senhor".

Segundo o verso 4, a esposa foi contaminada. Mas o que isso significa. Se vocês leram a publicação anterior, sempre que há sexo com uma pessoa você se torna uma só carne com ela e com as demais pessoas que ela se deitou.

Mesmo o divórcio não quebra o elo criado pelo sexo. Com isso, percebe-se a importância da virgindade no contexto bíblico.

Se isso não foi suficientemente convincente, note que a construção do verso hebraico está no hithpael, uma forma verbal passiva. Por isso, uma melhor tradução para a expressão seria "ela foi levada/induzida a contaminar-se".

Fica claro que o texto bíblico está jogando a culpa deste adultério no primeiro marido. Por isso que esse tipo de adultério não era punido com a morte, afinal, a mulher não tinha culpa de sua impureza.

Mas, o segundo casamento seria algum tipo de adultério? O termo "contaminação" é claramente ligado a Levítico 18:20-24 e 30, onde vemos diversos tipos de relações sexuais ilícitas (adultério). Veja que estas práticas também contaminavam a terra:
Por isso a terra está contaminada; e eu visito a sua iniquidade, e a terra vomita os seus moradores.
Levítico 18:25
Números também confirma que a relação sexual extra conjugal deixa a mulher contaminada (5:13, 14 e 20). Paulo deixa ainda mais claro declarando:
De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido.
Romanos 7:3
Veja que o ideal de Deus para o homem sempre permaneceu, e que a multiplicidade de parceiros sexuais é adultério, independente de haver uma cerimônia de casamento ou não. O que cortaria esse estado adúltero seria a morte do parceiro sexual.

Mas, creio eu, que a lição mais importante que podemos tirar dessa lei é que a misericórdia de Deus agiu para proteger a mulher, não se esquecendo dela em meio a uma sociedade onde os homens detinham o poder absoluto.
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2- Adultério


Não adulterarás. (Êxodo 20:14)

Hoje em dia temos dificuldade de aceitar a visão de adultério que a Bíblia apresenta. Sexo antes do casamento, relacionamentos abertos, sexo fácil e outros costumes atuais dificultam a aceitação da visão bíblica.

A palavra traduzida como adultério vem da raiz hebraica naʿap. Todos os estudos que pesquisei mostram que o melhor entendimento para o que chamamos de adultério é de "relação sexual ilícita", ou seja, contrário às leis ou a moral.

Sendo assim, todo o tipo de relação sexual condenada na Bíblia é uma relação adúltera. Deste modo, o incesto (veja o post sobre sexo que eu publiquei há algum tempo aqui), o homossexualismo, o sexo extraconjugal, e o bestialismo (sexo com animais) são todos transgressões do sétimo mandamento.

Infelizmente, na Bíblia o adultério é sempre visto como uma ofensa ao esposo, pois a poligamia estava impregnada no mundo antigo, e a proteção da geração do patriarca deveria ser mantida. No estudo anterior (veja aqui) confirmamos que ter várias esposas não era o plano original de Deus, mas é claro que era suportado.

Paulo deixa claro que os homens mais consagrados deveriam seguir o ideal de Deus e ter apenas uma única esposa (I Timóteo 3:12). Graças a Deus o concubinato e a poligamia não são bem aceitas no ocidente. A própria Bíblia mostra as complicações que são causadas pelo convívio de várias esposas.

Outra coisa importante para sabermos é que o adultério era punido na sociedade israelita com a morte dos adúlteros (Levítico 20:10). O estupro de uma virgem poderia ter outro fim (Deuteronômio 22:28 e 29).

Veja que segundo Paulo (I Coríntios 6:16) o sexo faz com que as pessoas se tornem uma carne, além de aludir que torna-se uma carne com os demais que ela se deitou também. Aí está o escândalo da declaração.

Preste atenção que se tornar uma só carne só é permitido depois da junção de dois primeiros ideais: deixar pai e mãe e unir-se ao cônjuge. Veja que em Êxodo 22:16 mostra que fazer sexo com alguém não os torna casados, mas assumir o casamento sim. Portanto, mesmo quando um casal solteiro torna-se uma só carne, o casamento não está composto.

Vemos também que em Levítico 21:13 e 14 a virgindade é valorizada, pois os sacerdotes só poderiam se casar com mulheres virgens. Lembrando que tudo que participava do santuário precisava ser o mais puro possível, sendo assim, a virgindade um símbolo da pureza sexual, no sentido de que ela não foi um só com mais ninguém.

Apesar de quase completamente ignorado, a pureza sexual é o símbolo do vestido branco das noivas modernas. A respeito da virgindade, você pode refletir mais estudando os versos de Deuteronômio 22:13-29.

Se você, apesar de tudo que foi dito nesta postagem, ainda acredita que não cometeu tal pecado, Jesus ligou este pecado até ao ato de cobiçar (desejar) uma mulher comprometida (Mateus 5:27 e 28). Quebra de dois mandamentos em um.

Mas porque tudo isto? Este mandamento esta tentando nos afastar da impureza. Não, não é ao sexo que me refiro quando digo impureza, mas aos sentimentos dúbios, aos desejos desenfreados,a os ciúmes, aos desprezos, à falta de amor, à frieza no viver, à vida fútil, e a todos os impactos psicológicos, sociais e espirituais que essas práticas condenadas na Bíblia trazem ao mundo.

Sim, ao mundo, e não só ao mundo de pessoas, anjos e demais seres celestes, mas ao mundo físico. Exatamente, o planeta Terra. A Bíblia declara:
maldita é a terra por causa de ti (Gênesis 3:17)
E depois, em Deuteronômio 24:4, se confirma novamente, agora dizendo sobre um relacionamento sexual proibido:
assim não farás pecar a terra que o SENHOR teu Deus te dá por herança.
Quando ler a Bíblia, atenha-se que tudo o que é considerado pecado, destrói e adoece tudo que toca, e o erro não faz apenas com que quem peque sofra as consequências, mas toda a Terra.
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

1- O Casamento Ideal

Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez,
E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?
Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.

Mateus 19:4-6
A citação de Jesus, mostrada acima, é de Gênesis 1:27 e 2:24. Além de Mateus, o evangelista Marcos também repete estes versos (Marcos 10:6-9).

Acredito que mais claro do que já foi dito por Jesus não poderia ficar, mas vocês já devem ter encontrado diversos argumentos a respeito deste "Deus ajuntou" para justificarem a desenlace matrimonial. O famoso: "nós não sabemos se foi Deus quem ajuntou".

A fórmula é simples, complica-a quem quer:

1) Deixar pai e mãe;
+
2) Unir-se a sua mulher
=
3) Uma só carne

Essa é a fórmula do casamento. A primeira parte consiste em assumir a responsabilidade de um para com o outro, retirando, assim, os deveres de sustento que os pais tinham até então. É uma forma de reconhecimento social, dando ao casal o status de família. Casamentos ocultos vão contra esse princípio.

A segunda refere-se a entrega total de seu ser ao outro. Interessante que este "tornar-se um" é a mesma palavra original hebraica (echad ou eḥad) para designar o único Deus (Deuteronômio 6:4). Mas Paulo também dá um exemplo como um grupo de pessoas é um em Efésios 4:3-6, mostrando que os que seguem os mesmo princípios, que pensam guiados pelo mesmo Espírito se tornam um.

Acredito que isto esclareça o que significa se tornar um. Não é a união sexual, mas uma união que antecede a sexual, pois esta é o resultado da união desses dois princípios dado. Tornar-se uma só carne é o último estágio da união.

Isto fica ainda mais claro quando vemos que o noivado de José e Maria já era considerado casamento antes mesmo de ocorrer relação sexual entre os dois. Tanto que só através do divórcio que os dois poderiam se separar, mesmo sem terem tido o contato sexual (Mateus 1:18). A nota deste verso na Nova Tradução da Linguagem de Hoje confirma isto. Em suma: O unir-se psíquico antecede a união sexual.

Por mais simples que seja, infelizmente, nossa geração conhece poucos casamentos que alcançaram o ideal dado por Deus.

O ideal de Deus era para que o primeiro casamento fosse eterno, o que infelizmente não aconteceu, pois a morte separou o primeiro casal e como sabemos, não haverá casamento na ressurreição (Mateus 22:30).

Mas seu plano continua em outro nível: "o que Deus ajuntou, não separe o homem", ou seja, só a morte (Romanos 7:3), ou o retorno de Cristo, poderá separar o enlace idealizado por Deus, mesmo nesse mundo decaído.
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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Divórcio, o tema proibido

A muito tempo sinto um silêncio nos púlpitos cristãos a respeito do tema do divórcio e o novo casamento. Não é para menos, pois é a respeito deste tema que Jesus proferiu uma das mais duras palavras para os que se divorciam, e não só para estes, mas para qualquer um que se apaixone por um divorciado.

E a mais pura verdade é que todos nós conhecemos pessoas que passaram por este triste evento, e não são poucas, infelizmente.

O divórcio costuma ser tão doloroso para os que o acompanham que parece em si um castigo, sem precisar de nenhuma outra punição além das dores que causam em todos os conhecidos e familiares do casal.

Mas o problema parece aumentar quando os divorciados começam a se encontrar com outras pessoas, trazendo a questão do novo casamento ser uma ato de adultério ou não.

Toda a complexidade emocional e teológica envolvendo o divórcio acaba fazendo com que este tema, tão mal definido na maioria das religiões cristãs, se torna-se um tabu tanto no púlpito quanto nas conversas entre as pessoas, principalmente entre as que passaram por essa situação.

Já a mim, desde que me deparei pela primeira vez com as frases de Jesus em Mateus 5:31 e 32, as quais tocaram o âmago de meu ser, eu reflito sobre o assunto.

Para compartilhar minhas reflexões e estudos resolvi dividí-lo em várias postagens, que serão:

1- O Casamento Ideal

2- Adultério

3- A Lei do Divórcio, um estudo de Deuteronômio 24:1-4

4- Carta de Divórcio: A Discussão é levada a Jesus

5- Se é assim, é melhor não casar!

6- Conclusões, como aplicar estes estudos na igreja hoje?