segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Aniquilacionismo

A primeira vez que ouvi essa palavra se referindo aqueles que creem na inconsciência dos mortos eu fiquei chocado! Afinal, a palavra aniquilar é muito forte. Aniquilar seria "reduzir a nada, destruir completamente; exterminar".

Aniquilação seria uma destruição absoluta e aniquilacionismo uma doutrina baseada na aniquilação, mais especificamente da alma. Esse termo ainda me causa incômodo, apesar de não poder dizer que ele estaria completamente errado. Talvez só não expresse o que sinto em relação do que acontece com os mortos.

Alma mortal

Independente do que consideramos ser "alma", a Bíblia deixa clara que ela morre, ou seja, é mortal (Ezequiel 18:4) e pode ser destruída (Mateus 10:28). Também vemos que essa alma não é consciente na morte (Salmo 146:4; Eclesiastes 9:5, 6 e 10).

Tanto "alma" quanto "espírito" são palavras polissêmicas na Bíblia, ou seja, tem vários sentidos, mas todos são aproximados. Postei estudos sobre esses pontos aqui e aqui respectivamente. Também aqui e aqui para espírito. Para resumir, as interpretações bíblicas para alma vão desde a vida em si até o que se passa na mente das pessoas (grego psiquê  "alma" explica bem isso). Já espírito vai para as forças motivadoras e influenciadoras para a alma humana, afinal tanto o termo hebraico (ruaḥ) quanto grego (pneuma) são traduzidos como vento, sopro. Por isso que é chamado de Espírito Santo a entidade que nos influência para o bem e para a verdade.

Mesmo compreendendo a mortalidade da alma, a sua inconsciência e o significado mais amplo dos textos bíblicos, há um texto que majoritariamente mostram a alma como uma entidade com destruição num momento diferente da do corpo:
Não tenham medo dos que querem matar o corpo; eles não podem tocar na alma. Temam somente a Deus, que pode destruir no inferno tanto a alma como o corpo.
Mateus 10:28, Nova versão Transformadora
Esse texto mostra que a morte do corpo podo ocorrer com a força de homens maus, mas esses não podem matar a alma. O que destrói ambos é o inferno, que claramente está sobre o controle de Deus segundo o texto acima.

Mas então a alma só morrerá no inferno? Ela é algo que só Deus pode destruir? E o aniquilacionismo? Ele só existiria após a morte no inferno? Para responder essas questões gostaria de voltar a ideia que postei nesta postagem.

Acredito que Jesus não afirma com as palavras de Mateus 10:28 a existência de alguma espécie de vida durante o período em que o corpo esteja morto, mas sim que independente do que acontecer com nosso corpo voltaremos a viver.

Guardados em Deus

Na postagem "Onisciência: como funciona a mente de Deus", demonstrei como imagino que tudo está na consciência de Deus, inclusive cada detalhe de nossa existência. Por isso, só Ele é capaz de restituir a vida de seres que já existiram. A única coisa que impediria isso seria a sua própria vontade. Sua palavra diz que ele vai retomar a vida de bons e maus (João 5:28 e 29), sendo que os maus seriam ressuscitados para serem julgados e os bons para viverem eternamente com Cristo (Apocalipse 20:5 e 6). Perceba que entre as duas ressurreições haveria um intervalo de mil anos.

Os maus seriam destruídos novamente de pois de julgados, mas agora seria para sempre, pois Deus não os irá ressuscitar novamente. Essa seria a segunda morte:

Então a morte e o Hades foram lançados no lago de fogo. O lago de fogo é a segunda morte.
Apocalipse 20:14
O diabo, que as enganava, foi lançado no lago de fogo que arde com enxofre, onde já haviam sido lançados a besta e o falso profeta. Eles serão atormentados dia e noite, para todo o sempre. Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. O vencedor de modo algum sofrerá a segunda morte.
Apocalipse 2:10 e 11
Felizes e santos os que participam da primeira ressurreição! A segunda morte não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele durante mil anos.
Apocalipse 20:6 
Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos — o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte".
Apocalipse 21:8

Algumas pessoas creem que num sofrimento eterno da alma nesse lago de fogo, mas para mim o próprio texto fala que o lago de fogo é a segunda morte. Como assim? Veja, o Apocalipse trabalha vários símbolos, inclusive alguns o próprio livro diz o que é, como vemos em Apocalipse 1:20, que mostra que as estrelas são anjos e os candelabros são igrejas. Nesse texto mostra que o lago de fogo é a segunda morte, não um lugar de sofrimento eterno real, mas um lugar em que a vida seria aniquilada.

Mais uma confirmação sobre isso está no fato que os conceitos abstratos "morte" e "Hades" (algumas traduções colocam "Inferno" no lugar de "Hades"),  também serão enviadas para esse lago de fogo. Não é tema daqui, mas ajuda a entender que Besta e Falso profeta também são conceitos que seriam aniquilados já no início dos mil anos, mas discutiremos isso em outra postagem, ok? Na verdade não sei quando.

Voltando ao aniquilacionismo

Depois de refletirmos nos conceitos acima, vejo que muitos já podem entender um pouco melhor a visão chamada de aniquilacionista.

A aniquilação, ao meu ver, ocorre em toda e qualquer morte física do corpo, afinal não há consciência sem corpo. Mas, como é prometida uma ressurreição, essa aniquilação não é irreversível, pois Deus, por escolha, traz de volta a vida tanto bons como maus novamente. Já na segunda morte, os que passarem por ela serão novamente aniquilados, mas de forma definitiva agora, pois Deus escolheu não mais dar a vida a esses.

Apesar de na prática ser a mesma coisa, alguns aniquilacionistas não veem toda morte como aniquilação, mas apenas a segunda. Questão de definição, não de contradição de conceitos.

Mesmo depois de tudo esclarecido ainda não gosto da palavra, pois é dura. Mas, talvez seja a melhor palavra para o que acontecerá, principalmente se aplicada a segunda morte.

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Onisciência: como funciona a mente de Deus?

Prepotência, arrogância, soberba e presunção são alguns substantivos que provavelmente vieram a mente do internauta ao ler o título dessa postagem.

Claro que o que proponho aqui são apenas reflexões baseadas na Bíblia e no conceito de onisciência que abstraímos dela, afinal, se a mente humana já é um universo magnífico o qual a ciência tem dificuldade em conhecer, imagina a mente divina.


Onisciência

Senhor, tu me sondas e me conheces.
Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos.
Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos te são bem conhecidos.
Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor.[...]
Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.
Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza.
Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir.
Como são preciosos para mim os teus pensamentos, ó Deus! Como é grande a soma deles!
Se eu os contasse seriam mais do que os grãos de areia. Se terminasse de contá-los, eu ainda estaria contigo.
Salmos 139:1-4, 13-18
Deus sabe tudo. Se isso te causa algum desconforto, olha que piora. Deus não só sabe tudo, mas sempre soube. Isso é o que vemos neste salmo, o qual também transmite a onipresença divina.

Muitos ao olhar para esse texto veem uma predestinação do que acontecerá na vida de cada um, destruindo a liberdade de escolha de cada um, chamada também de livre-arbítrio. Há outros textos que também trazem aparente ideia de Deus determinar a salvação e perdição, como Romanos 8:29 e 30 e Efésios 1:3-6.

Esses textos se chocam com outros que mostram a escolha humana, como 1 Timóteo 2:3-4, 2 Pedro 3:9, pois mostram o divino de salvação universal, além de Deuteronômio 30:19, Josué 24:14 e 15, Isaías 1:18-20, Apocalipse 3:20 e muitos outros textos que demonstram convites e escolhas que o ser humano deve tomar.

Sabe, eu acredito que Deus permitiu essas aparentes contradições por um motivo: ocuparmo-nos com sua palavra. Não podemos nos acomodar de estudar, pensar, refletir nela, para que possamos aprender mais dEle.

Não acredito que Deus tenha criado a cada um sem o poder de decidir entre fazer o bem e o mal. Claro que depois do pecado perdemos essa capacidade, mas foi nos concedida novamente com a promessa da morte de Cristo e a ação do Espírito Santo sobre nós. Mas isso não explica o que o saber tudo de Deus significa, não é mesmo?

Ter certeza que algo acontecerá não faz com que eu tenha escolhido que seria desse jeito. Claro que grandes decisões como salvar a humanidade ou destruí-la e começar do zero são decisões divinas, mas Ele escolheu um caminho diferente. Ele viu onde iria dar esse e escolheu ele. Qual é esse caminho. Um caminho onde a salvação é condicionada a nossa escolha. Claro que ele sabe quem vai ou não vai se salvar antecipadamente, mas não porque ele ignorou nossas escolhas, mas por saber qual seria.

Um exemplo para ilustrar essa parte seria a de uma câmera que filmasse o futuro. Ela pode ver o que acontecerá, mas não mudará nada, no caso, por não ter poder para isso. Deus tem poder para alterar, mas não é isso que Ele faz, ao menos não O faz em relação a nossa escolha exclusiva de aceitarmos ou não essa salvação.

Mais uma coisa a respeito do "ver o futuro". Como Deus veria o futuro se ele ainda não aconteceu? Deus vê pois sua capacidade mental é tão extraordinária que a sequência de cada fato e escolha que dará é organizada de tal forma em sua mente que Ele tem convicção do que acontecerá, inclusive em cada detalhe, capacidade impossível para qualquer outro ser.

Segundo o livro de Daniel e demais profecias bíblicas cumpridas, temos convicção que Deus age na história, inclusive, até suas ações ele já previa muito anteriormente, ou, em outras palavras, Ele já via o que faria antes mesmo de o fazer, o que nos leva para o próximo subtítulo.

A mente de Deus
Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente.
Delas também falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, interpretando verdades espirituais para os que são espirituais.
Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas espiritualmente.
Mas quem é espiritual discerne todas as coisas, e ele mesmo por ninguém é discernido; pois
"quem conheceu a mente do Senhor para que possa instruí-lo? " Nós, porém, temos a mente de Cristo.
1 Coríntios 2:12-16
Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos!"Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? "
"Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? "
Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém.
Romanos 11:33-36
Quem afinal, pode sondar a Deus? Quem pode compreendê-lo por completo? Ninguém, correto. Mas lhe conhecemos, não por completo, através de Cristo. Não que Cristo não o represente perfeitamente, mas por não sermos capazes por sermos finitos. Poderia o finito caber o infinito?

O próprio Salomão declarou que a pessoa de Deus não caberia nem em tudo, ou... como poderia dizer? "... nem os céus e até os céus dos céus não te podem conter" (1 Reis 8:27)? Acho que isso. Não dá para entender por completo o ser divino, afinal, Ele habita em luz inacessível (1 Timóteo 6:16).

Afinal, dá para se concluir o que se passa na mente de Deus? Sim. Tudo se passa lá. Tudo mesmo. Inclusive o que jamais veio a existência, incluindo o que nunca virá.

Todas as ciências, todo o conhecimento, tudo o que já não existe, tudo o que ainda existirá, está lá, na mente de Deus. De certa forma, este pensamento lembra muito o mundo das ideias de Platão, mas não o é.

Assim como nós inventamos, sonhamos, criamos coisas, Deus o faz, mas a diferença é que mesmo que ele jamais execute uma ideia, ou feito, eles estão na mente dele, os compreendendo de uma maneira que jamais nós o compreenderemos.

Só Deus tem essa capacidade e esse poder, inclusive de tudo que é chamado de mal estar na mente dele e não vir a existência por intermédio dele. Afinal, conhecer algo não é ser algo, pois entendermos mais sobre um serial killer não nos torna um, apesar de no nosso caso isso poder nos influenciar.

Concluo com uma última ideia, a qual trabalharei em outra postagem, que é: Deus é o único que conhece cada ser humano, incluindo suas células, memórias, sonhos, desejos, inclusive essas coisas nos que já  deixaram de existir. Deste modo, Ele é o único que pode trazer-nos novamente a vida, e do nada. Deus tem a capacidade de fazer com que voltemos a vida exatamente do modo que éramos antes de morrermos, sem nenhuma diferença, inclusive nos fios de cabelo, afinal, ele sabe exatamente quantos são (Mateus 10:30).