domingo, 31 de janeiro de 2010

É necessária boa fé para se ler a Bíblia

Sim, e não só dos crentes, mas dos leitores acadêmicos também. Judeu, cristão, ateu ou qualquer outro leitor dessas palavras milenares deveriam ser mais verdadeiros e lerem a Bíblia com boa fé.

De onde me veio isto?!? Veio de uma conversa com meu pai sobre Isaías 65. Vejam estes versos:
Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão.
Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém uma alegria, e para o seu povo gozo.
E exultarei em Jerusalém, e me alegrarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor.
Não haverá mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado.
Isaías 65:17-20
A parte negritada é exatamente a parte que causa discussão. Por quê? Acredito que alguns já perceberam. Como pode haver morte na nova terra? Para muitos o texto está confirmando que haverá morte no paraíso prometido. Seria isso mesmo que o texto diz? Será que esse texto estaria tão distantes dos textos neotestamentários que prometem vida eterna e extinção da morte?

Primeiramente devemos devemos nos atentar para o próprio texto. Será que ele realmente está dizendo que haverá morte? Veja que a morte é o principal motivo de choro e clamor, contrariando os próprios versos precedidos. Por isso é necessária a boa fé. Qualquer escritor que quisera dar esperança para as pessoas (que é exatamente o contexto desses versos) não cometeria tamanha contradição.

O que acontece no texto então?

A Bíblia, por muitas vezes, passa de coisas que conhecemos para as que não conhecemos. As parábolas são bons exemplos sobre isso.

Vejamos agora o texto negritado através da comparação do estado presente e do estado prometido pelos versos.

Hoje: crianças morrem cedo, até imediatamente após o parto.
Na promessa: Isso não ocorrerá. Uma criança jamais completará sua história com poucos dias.

Hoje: Apesar de muitas vezes uma pessoa que morra aos 50 anos ser considerada nova, na realidade, o texto bíblico diz respeito ao jovem aquele que não entrou na idade madura. Na sociedade de hoje ele é considerado adulto com 18 anos, no passado bíblico era considerado adulto quem tinha mais de 20 anos.
Na promessa: Se acontecesse de alguém morrer com 100 anos, esta pessoa seria considerada que morrera jovem ainda. Esse texto fica ainda mais claro quando comparamos o que é considerado morrer jovem hoje em dia.

Veja que na última promessa acima citada, não é uma afirmativa que haverá morte, mas uma linguagem poética que nos leva a entender a superioridade da nova terra a terra recente. De um estado atual para um estado melhorado até findar no estado ideal.

Literariamente falando, o texto bíblico é progressivo. Ele está ilustrando de pouco em pouco até que a compreensão do mesmo seja completa. A citação seguinte ainda completa mais a ideia posta logo acima:

"nem velho que não cumpra os seus dias"...

O que seria ser um velho que não deixe de cumprir seus dias? Qual seria o ideal de Deus para esse velho? Claro que seria uma vida eterna. Não há outra maneira de expulsarmos o choro e o clamor da perca de um ente querido.

Vemos que a análise do texto bíblico não pode ser superficial, mas devemos nos aprofundarmos no próprio texto, para que não saíamos dizendo o que o texto não diz.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Destruidor

Se não me engano, já temos vinte e sete dias de chuvas consecutivas em São Paulo, e mais de cinquenta mortes causadas por elas. Deu no twitter do G1 que os terremotos são as tragédias naturais que mais mataram pessoas nos últimos 10 anos, sendo que só no Haiti (caso mais discutido na mídia atualmente) a contagem está em duzentos mil. Acidentes, maremotos, furacões, aviões caindo ou partindo-se ao meio são notícias cada vez mais frequentes nos nossos telejornais e demais mídias.

Em meio a essas catástrofes ouvimos clamores voltados a Deus, muitas vezes brotando de nosso próprio coração. "Por quê tu permitiste, ó meu Deus?" é uma das mais educadas. Há outros que acusam a Deus por não agir ou impedir tais coisas. Outros crêem que o próprio está mandando o castigo pelos pecados. Mas o que a Bíblia diz a respeito disto?

Academicamente falando, a doutrina do destruidor, ou do Satã, adversário, Diabo evolui em meio a teologia do povo hebreu segundo as suas escrituras.

O livro de Jó - que segundo a opinião acadêmica é um dos livros que mais avançaram na teologia bíblica - já é posto o Satã como o causador das catástrofes naturais e os demais incidentes com a família do patriarca (Jó 1 e 2). Em Malaquias 3:11 há uma promessa de repreensão ao devorador dos campos para os que forem fiéis aos dízimos e ofertas. Em diversos textos, as obras más são inspiradas por espíritos maus, causadores de destruição.

No novo testamento esta imagem é retomada, inclusive pondo Satanás como um leão devorador (I Pedro 5:8). Os endemoniados causam destruição, e a besta que surge da terra - mais uma das seguidoras do Dragão/Satanás - pode lançar fogo do céu (Apocalipse 13:13).

Mas foi Jesus quem mais fez distinção entre o Adversário e Deus. Primeiro na Parábola do trigo e do Joio, mostrando que o Joio, as pessoas que amam a impiedade, são frutos do plantio do inimigo (veja Mateus 13:24-30 e 36-43).

Mas o esclarecimento mais grandioso é feita na descrição do Bom Pastor, onde vê-se a diferencia entre as obras de Deus e as de Satanás:

O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.
João 10:10
Vemos que o verdadeiro causador destas tragédias é Satanás. Na Bíblia ele e seus seguidores é que são responsáveis pelo mal. Que possamos deixar de segui-lo e seguir ao doador da vida.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Paz

Veja a seguinte nota da Bíblia de Jerusalém sobre Jeremias 6:14 ("Eles cuidam da ferida do meu povo superficialmente, dizendo: "Paz! Paz!", quando não há paz".):
a) Promessas mentirosas dos falsos profetas (cf. 4,10), com quem Jeremias entrará em violento conflito por causa de seus anúncios de desgraça. Eles anunciam a "paz" (shalôm), termo que exprime não apenas a ausência de perigo externo (sentido que aparece em primeiro plano no tempo de Jeremias), mas todo um ideal de felicidade na prosperidade individual e coletiva, na boa relação para com Deus e na harmonia social. É o ideal que deve realizar a paz messiânica (cf. Is 11,6+).

Esse texto harmonizasse com os estudos linguísticos sobre o hebraico que recebi na Universidade de São Paulo. A raiz da palavra significa inteireza, completude. Dessa forma, a paz deveria abrangir todos os aspectos da vida humana, como bem explanado na Bíblia de Jerusalém (cada vez compreendo mais o motivo dela ser considerada a melhor Bíblia).

Que a Paz de Deus seja com cada um de vós.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

em verdade

Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniquidade; os vossos lábios falam falsidade, a vossa língua pronuncia perversidade.
Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniquidade.
Isaías 59:3-4
Infelizmente os versos acima não se aplicam apenas a religiosidade decaída dos israelitas, mas, também, de toda a humanidade.

É comum a todos nós defendermos opiniões, postulados, teses, ou até a própria imagem através de mentiras, enganos e falsificações.

Infelizmente, como é impossível para cada ser humano verificar cada palavra que sai da boca do outro, continuamos a utilizar a norma linguística de tomar como verdade as palavras do outro. Se tudo fosse posto a prova dificilmente conseguiríamos viver em comunidade.

Mas a própria Bíblia apresenta uma forma de melhorar esse problema com a verdade. O recorte abaixo é parte do diálogo entre a mulher samaritana e Jesus:
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
João 4:22-24.
Apesar do texto estar se referindo a adoração, há um princípio que todos nos deveríamos aplicar a tudo que fazemos: fazer todos as coisas "em verdade".

Jesus achou importante explicar o porquê da adoração "em espírito". Como já estudamos antes, em espírito pode significar motivado/impelido pela mesma força (veja aqui). Ao mostrar que Deus é Espírito, Jesus está mostrando que adorar em espírito é adorar motivado pelo próprio.

Agora o "em verdade" não vem com nenhuma explicação, pois, claramente, este termo era perfeitamente compreensível naquela época, assim como o é hoje.

"Em verdade"! Esse deve ser o nosso modo de viver. Se formos discutir, argumentar, escrever teses, elaborar conceitos científicos, deveríamos o fazer "em verdade", sinceramente, sem mentir a si mesmo. Esse seria o único jeito de diminuir a onda de mentiras e falsidades que alastram nosso mundo, e esse jeito só pode ser iniciado por mim, e, se assim o decidir, por você também.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As parábolas de Mateus 25

Mesmo para os descrentes, a qualidade literarária da Bíblia é inegável. Mateus 25 é só mais uma prova disso.

Esse capítulo é precedido pelo sermão profético sobre a grande tribulação e o retorno de Jesus. Já o capítulo que iremos estudar aqui trata dos perigos que correm os que estiverem aguardando os acontecimentos citados e sua correta atitude para com eles.

Na primeira parábola, Jesus mostra o descuido das virgens que não guardaram azeite suficiente para a noite toda. Ao pedirem desse azeite para suas amigas precavidas, as mesmas não quiseram compartilhar, pois isso significaria elas não iluminarem o noivo e a noiva por um período da noite. Ou seja, por um tempo haveria mais pessoas iluminando, mas em determinado momento ninguém cumpriria seu dever, pois não haveria azeite para o tal. [entenda mais em A parábola das dez virgens].

Já na segunda parábola, a dos talentos, notamos que dois servos dobraram a quantidade de talentos recebidos por eles, enquanto o mais temeroso resolve simplesmente guardar seu talento. Os que dobraram seus talentos foram exaltados e o servo medroso e acomodado teve o talento tirado.

A última parábola contada por Jesus está em termos condicionais mais claros que nas duas primeiras. Jesus diz claramente que aqueles que não fizerem algo pelos desfavorecidos, serão separados para a destruição final, enquanto serão exaltados os que fizerem, pois é como se fizessem a Ele mesmo.

Mas... o que tem de notório nestas três narrativas? Perceberam? São todas contra o comodismo. Todas querem que se vá para a famosa e bíblica "segunda milha" [Mateus 5:41].

Ao meu ver, as palavras chaves das parábolas são azeite e talento, os quais representam respectivamente o poder do Espírito Santo e os preciosos filhos de Deus. Desta forma, não devemos nos acomodar com o estado espiritual que estamos, nem com o número de crentes que Jesus deixou conosco como seu bem mais precioso.

Veja que Jesus estava querendo que crescêssemos pessoalmente (parábola das virgens), como igreja (parábola dos talentos) e concluiu dizendo que crescêssemos como membros da sociedade (parábola da separação das ovelhas dos bodes).

Ou seja, os ensinos de Jesus não permitem que nós nos acomodemos com nossa realidade social, eclesiástica e pessoal.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Palestra sobre sexualidade


A questão da sexualidade, principalmente a questão do homossexualismo, trazido pela antropologa Maria Luiza Heilborn. Uma palestra boa para refletirmos antes de proferirmos declarações absurdas e mitos modernos a respeito da sexualidade humana. Veja o vídeo aqui.