terça-feira, 20 de julho de 2010

Estaremos com Cristo durante a morte?

A Bíblia de Jerusalém, a qual estou gostando muito de fazer o ano bíblico, tem uma nota que afirma que o estar com Cristo durante a morte não contradiz a doutrina da ressurreição (nota j, na página 2o48, referente ao capítulo 1 e verso 23 de Filipenses).

Na Bíblia de Jerusalém o verso vem dizendo assim:
Sinto-me num dilema: meu desejoé partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor, mas o permanecer na carne é mais necessário por vossa causa.
Filipenses 1:23 e 24
Bem, não posso negar a cada um de vocês que estes versos me soam muito estranhos, segundo meus estudos bíblicos. Vocês também devem ter notado caso tenham lido estas minhas postagens: Espírito do homem e Espírito de Deus, Espírito e Alma.

Realmente não creio que tenha apresentado nenhuma inverdade. Então, o que dizer deste verso acima? O que Paulo está tentando dizer? Seria uma nova doutrina? Estaríamos com Jesus durante a morte? Será que os demais textos de Paulo concordam com essa interpretação?

Olhemos para o próprio livro para que consigamos visualizar melhor o significado deste texto, que aparentemente é fácil. Gostaria só de lembrar o que o próprio apóstolo Pedro falou sobre Paulo:
E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada;
Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.
2 Pedro 3:15 e 16
Veja os versos de Filipenses acima indicados já se contradizem com o próprio conteúdo da carta. A esperança de Paulo parece não estar exatamente em estar com Jesus na morte, mas em ressuscitar como ele ressuscitou:
Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo,
E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé;
Para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte;
Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos.
Filipenses 3:7-11
Sem contradizer a ressureição dos mortos!?! Realmente, esta nota me decepcionou um pouco, pois o conteúdo mais academicistas, portanto mais cético desta tradução/versão da Bíblia, era mais respeitado, sendo que os próprios textos de Paulo emergem profundamente na ressureição. No mínimo o autor dessa nota deveria suspeitar dessa tradução.

Mas o novo testamento deixa claro que a Bíblia de Jerusalém não tem só rumos acadêmicos, como já se poderia notar no antigo testamento, mas ideologias católicas embutidas sutilmente. Mas, repito, ainda gosto e aprendo muito com essas notas bíblicas.
Agora vamos argumentar mais um pouco. Veja o que Lucas, um dos companheiros de Paulo, relata a respeito do rei Davi, morto já a milhares de anos, ao relatar o discurso de Pedro:
Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura.[...]
Porque Davi não subiu aos céus...
Atos 2:29 e 34
O estado dos mortos, que ainda devo estudar com vocês, é muito claro na Bíblia. O próprio Paulo dava a ressurreição como esperança para vencer a morte e não uma vida incorpórea:
Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança.
Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele.
Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem.
Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.
Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.
Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.
I Tessalonicenses 4:13-18
Esta é a verdadeira esperança, não um estado consciente durante a morte.

Mas, como fica o texto então? Realmente, não é um texto fácil, principalmente para nossas mentes induzidas por todos os lados a crer numa consciência em morte. Mas gostaria de mostrar meu ponto de vista a respeito do texto:
Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor.
Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne.
Filipenses 1:23 e 24 (ARC Fiel)
Acredito que este estar com Cristo de forma alguma é fisicamente, inclusive que aqui Paulo se refere na sua morte. Paulo com certeza mostra que a morte, como um estado de total inconsciência, levá-nos a uma dependência ainda maior em Cristo. Morrer é esperar, sem mais nada fazer, em Cristo. Paulo queria indicar mais uma vez que contava com Cristo, e não em sua história de vida para voltar a viver. E Ele confiava tanto na salvação absoluta em Cristo enquanto morto, que isto seria melhor.
Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento.
Também o seu amor, o seu ódio, e a sua inveja já pereceram, e já não têm parte alguma para sempre, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.
Eclesiastes 9:5 e 6
Estar em Cristo durante a morte de forma alguma pode significar, biblicamente falando, que desfrutaremos de sua presença em morte, mas sim que aguardamos a manifestação do poder divino em nós para que voltemos a viver. Que vivamos essa esperança, e não outra que não se encontra na palavra de Deus.
Os mortos não louvam ao SENHOR, nem os que descem ao silêncio.
Salmos 115:17

terça-feira, 13 de julho de 2010

[Dn 9] A profecia (parte 5)

Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
Daniel 9:25
Depois de uma alusão geral sobre a profecia, agora Gabriel dá coordenadas bem mais específicas para a realização e confirmação da profecia:
desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém
Bem, a palavra chave dessa parte é "ordem". O que poderia significar esta palavra? A palavra hebraica é dabar (ordem, decreto, mandado) é normalmente atribuida a um decreto humano, mas no verso 23 de Daniel 9 ela é usada para uma ordem divina. Mas a profecia trataria de uma ordem divina ou humana? A Bíblia mais uma vez surpreende, mostrando que a ambiguidade provocada pelo texto é proposital.

Houve três decretos autorizando, confirmando ou ampliando a reconstrução do templo e dos muros de Jerusalém:

1º Ciro (537/538 a.C.): Esdras 1 dá as coordenadas deste mandato.
2º Dario I Histaspes (+/- 519 a.C.): Esdras 6:6-12.
3º Artaxerxes I Longímano (457 a.C.): Esdras 7:7-8 (data de emissão), 11-26 (decreto).

Mas como deveríamos ver estes decretos. A própria Bíblia esclarece isto:
E edificaram e terminaram a obra conforme ao mandado do Deus de Israel, e conforme ao decreto de Ciro e Dario, e de Artaxerxes, rei da Pérsia.
Esdras 6:14
Veja que Deus é quem deu a ordem e esta se cumpriu nos três reis persas, mostrando o porquê da ambiguidade anteriormente mostrada. Veja que a ordem (mandado) foi uma e se completou com os três reis. Então a última data (a que se completou o decreto) foi a de 457. Está é a data de partida da profecia.

A partir daí já podemos calcular as 70 semanas (490 anos):

-457+490 anos=+33
Ou seja, partindo de 457 a.C. até darem os 490 anos, está profecia se cumpriria em 33 d.C., matematicamente falando. Mas o calendário Gregoriano não tem ano "zero", por isso não podemos contar só com a matemática. Isto se resolve facilmente somando este ano que foi pulado (pois não existe neste calendário) e afirmamos o ano de 34 d.C. como o predito por esta profecia.
até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
Até que se chegue ao messias prometido, o qual traria as maravilhosas promessas do verso 24 (veja as outras partes desse estudo), passariam 7 semanas (49 anos, tempo normalmente atribuído a reconstrução de Jerusalém que segunda a própria profecia se findaria em 408 a.C.) e 62 semanas (434 anos até o início do ministério público do Messias, que se iniciaria em 27 d.C.).

A interpretação acima descrita é a mais comum no meio evangélico e a mais plausível também. As próprias angústias causadas pela reconstrução (Estude os livros de Esdras e Neemias) foram já previstas (pensando que Daniel foi escrito anteriormente do ocorrido) por Daniel 9.

A princípio poderíamos pensar que o Princípe descrito neste verso seria o próprio messias, mas os versos seguintes de Daniel 9 me fazem crer que não é do messias que se trata. Aguardem até a próxima parte.

domingo, 11 de julho de 2010

A prova máxima da bondade de Deus

Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia.
Salmos 34:8
A Bíblia é clara em declarar que nosso Deus é bom. O próprio Jesus declarou que só Deus é bom, ninguém mais (Mateus 19:17). Mas esta certeza não é compartilhada por todos.

Eu, particularmente, já há um bom tempo que não tenho dúvidas da bondade de Deus. Mas hoje pela manhã, ao fazer meus estudos diários, fui inspirado a responder esta questão que muitos fazem: se Deus é onipotente, porque ele permite o mal? Ele permitindo o Mal ele continua sendo bom? Seria Deus uma força acima do bem e o mal, uma força da natureza?

Por mais estranho que pareça, muitas pessoas pensam assim ou, no mínimo, passa na mente de muita gente pensamentos semelhantes a estes.

Não quero dar uma explicação muito complexa sobre estas questões, vou mais é repetir o que o salmo acima diz, ou seja, como provar que o nosso Deus, o Bíblico, é bom.

Bem, de onde tirei a resposta. De Paulo em 2 Coríntios 3:1-3:
Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de recomendação de vós?
Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos os homens.
Porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.
Assim como Paulo considerava sua autoridade sobre a verdade nos crentes transformados, estes mesmos crentes são as testemunhas do amor e bondade de Deus. Nós somos a prova máxima de que Deus é bom, pois mesmos sendo maus, vamos sendo transformados em pessoas que amam e conhecem o bem. Está certeza é dada pelo Espírito de Deus, na caminhada Cristã, e é sentida pelos demais em volta.
Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá.
Isaías 43:10
O que nós praticamos, mais até do que falamos, é o que confirma em nós e nos que nos vêem que Deus é bom. É em nós que muitos virão conhecer a Deus:
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
João 13:35
Nós somos as cartas vivas de Cristo para os que ainda não crêem. O Espírito Santo agindo em nós e nos transformando dia a dia é a prova pessoal de que Deus é bom. O fato de que cada dia queremos ser mais parecidos com Cristo é a prova máxima em nós de que Deus é bom, pois se ele fosse mal, nos inspiraria o mal, não o bem.

Sim é simples assim.

Qualquer dia posto a respeito do mal e a bondade de Deus.

Maranata.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Espírito do homem e Espírito de Deus


Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.
I Coríntios 2:11
Esse texto é um dos que mais dá "pano pra manga" para as pessoas que creem na dualidade do ser humano (um ser humano corpóreo e um espírito/fantasma) e dos anti-trinitarianos (os que creem que Deus é uma pessoa ou duas, mas jamais três). No caso do primeiro, vemos que a Bíblia deixa claro o que é a vida humana e os usos da palavra "espírito" e "alma" (veja respectivamente aqui e aqui). Em breve, pretendo falar sobre o estado dos mortos.

Mas... e esse texto (I Co 2:11, logo acima)? Quais são suas mais comuns interpretações? Seria o espírito do homem algo mais que o próprio homem? Ou seria o Espírito de Deus apenas o mesmo Deus e não uma terceira pessoa? Questionamentos sérios, não?

A palavra tão usada pelos exegetas contemporâneos que ilumina o caminho à resposta é "contexto". O contexto direto de 1 Corintios 1 e 2 já nos deixa claro que a argumentação de Paulo está opondo ciência do homem e ciência de Deus; pensamentos próprios do homem e pensamentos próprios de Deus; pensamentos do mundo carnal e pensamentos do mundo espiritual; etc. Já nesse contraste já descartamos a ideia da interpretação do ser humano dual. Não é disso que o texto trata.

Então os anti-tri estão certos? Se o espírito do homem são os pensamentos dele, o Espírito de Deus são os pensamentos de Deus, não é? Calma lá, amigo. Veja que o texto não diz que o espírito do homem é o pensamento particular de um ser humano, mas uma generalização, significando o pensamento de toda a humanidade, um pensamento construído pelo homem/humanidade. Acredito que isto fica claro ao ler o texto com está noção de ciência do mundo, sabedoria, etc.

Claro que pelo contexto bíblico (de toda a bíblia) é descartada a vida durante a morte (em breve falarei mais sobre isto), mas poderíamos dizer o mesmo do Espírito de Deus? Seria Ele só o pensamento, ou a ciência/sabedoria divina? Acredito que não (acompanhe os estudos desse marcador: Trindade).

Então como fica o texto? Claramente Paulo faz um jogo de palavras, aproveitando o termo espírito do homem, que demonstra o que o move, seus os pensamentos em comum, ou seja, o que é próprio do pensamento humano. Toda esta significação acaba atraindo a argumentação para que a palavra "Espírito de Deus" expressa-se tudo isto a respeito de Deus, mas sem perder sua significação bíblica.

Ou seja, o termo espírito do homem é claramente remetido ao pensamento construído pela humanidade, enquanto o Espírito de Deus é ambíguo, mostrando não só que o Espírito entende a si mesmo como ao Pai e ao Filho, e que por isso nos ensina o que é próprio de Deus.

É uma progressão de significados até fácil de entender para os que estão acostumados a poesia.