terça-feira, 12 de outubro de 2010

As parábolas do rico insensato, do administrador infiel e do rico e de Lázaro

Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?
Lucas 12:20
 Desde a Torá, passando pelos profetas e chegando a boca de Jesus a Bíblia vem anunciando o erro dos filhos de Deus referentes a cobiça e acomulo de dinheiro. Não foi a toa que a igreja católica por tanto tempo foi contra o capitalismo.

Vemos que o apego ao dinheiro não é um mal que ocorre só aos que são apegados ao mundo secular, mas também entre os que crêem em Cristo. A história do jovem rico, registrada em todos os evangelhos sinóticos (Mateus 19:16-30; Marcos 10:17-31 e Lucas 18:18-30), mostra muito bem como um homem que acredita guardar todas as leis está falhando no amor para com o próximo, deixando-o em falta.

Em Lucas 12:13 à 21, Jesus conta a parábola do administrador insensato para um homem que lhe pede para convencer seu irmão a dividir a herança com ele. Jesus deixa claro para ele que lutar por mais e mais bens não é o fundamento desta vida, principalmente quando isto lhe tira as riquezas celestes.
Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
v. 15

Já em Lucas 16 encontramos uma estrutura argumentativa semelhante a de Lucas 15, mas com um novo tema. Enquanto Lucas 15 ( veja mais aqui) trata da importância do homem para Deus, Lucas 16 mostra como o homem falta em amor para com seus semalhantes e como isso deveria mudar.

A parábola do administrador infiel, também nomeada "do administrador astuto" [NVI], choca a primeira vista, pois parece um elógio as práticas infiéis do administrador. Longe disso, a intenção clara do texto é mostrar como um homem comum, sabendo das suas limitações e dificuldades de sobrevivência (veja o v. 3), encontra, na utilização dos recursos que ainda tem em mãos, um meio de conquistar amigos para o consolarem no tempo de miséria.

Esse tipo de pensamento tão comum é posto em contraste com o sentimento de acúmulo tão presente na plateia de Jesus.
E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
v. 9
 Agora Jesus fala claramente a seu público que eles que receberam a luz deveriam ser mais sábios e já que consquistaram tantas riquezas em cima de injustiças, eles deveriam gastar as mesmas para conquistarem amigos para que quando chegarem aos seus eles tenham quem os recebe em suas casas.

Perceberam que estas pessoas parecem não terem abrigos no Céu. Tabernáculos, notem o plural, aqui se refere as tendas, habitações, não ao santo templo que inicialmente era em tenda. Esses homens não conseguirão sequer uma posse material no Céu, pois não acumulam tesouros valiosos a Deus.

Na continuação do capítulo 16, vemos que Jesus deixa claro que não dá para se viver para as riquezas e para Deus ao mesmo tempo. Ou vive-se com o acumulo egoísta ou se pratica a misericórdia para com os mais necessitados.

Nos versos 14 e 15 é mostrado a fúria dos fariseus ao se referir daquela forma a eles e a suas riquezas. Jesus respondeu a eles mostrando que a forma que eles pensavam era oposta a que Deus desejava para os homens. Dos versos 16 à 18, Jesus demonstra que até João fora pregado os ensinamentos do Antigo Testamento e que o reino de Deus chegou, ou seja, Jesus, o Messias, prometido como rei, havia chegado, para começar a reinar em nossos corações até ser entronizado. Também deixou claro que isto não tira o valor de tudo que foi escrito, pois nada seria mudado. No último verso ainda dá uma cutucada no mal costume do homem de se divórciar, mostrando tanto a mulher quanto o homem estariam em adultério caso contraíssem um novo casamento, contrariando a prática do momento.

Ao citar a Lei e os profetas, Jesus também remetiu-se ao que fora pregado até então sobre o amor ao próximo demonstrado na Torá (Levítico 19:18) e os diversos apelos para a ajuda de pobres e viúvas (Isaías 58:7).

Jesus conclui o discurso com a parábola do rico e do Lázaro. Infelizmente, algumas pessoas vêem este conto de Jesus como uma história real e não uma parábola, forma citada claramente por algumas traduções (NTLH, ARA e Bíblia de Jerusalém). A Bíblia de Jerusalém chega a citar em sua nota:
História-parábola, sem qualquer nexo histórico.
p. 1818, nota e)
E está é a verdade, pois a parábola não se encaixa nem com a doutrina bíblica da morte, ressureição e vinda de Cristo, nem com a crença do inferno grego-latino, mas demonstra ser um misto dos dois. Não tem valor doutrinário, mas a criação desta quimera nos ensina grandes lições sobre a Bíblia e o dinheiro.

O rico, acomodado com a situação do pobre Lázaro, não contribui para aliviar a dor do mesmo, tendo sua sorte trocada quando morrera. Ao invocar sua descencia abraamica para o próprio profeta ele mostra claramente que é impossível se fazer qualquer coisa para que sua situação atual mude. Isto nos ensina que o nosso destino celeste se define nesta vida.

Ao ver a dureza de seu castigo e a chance de seus irmãos serem avisados para que eles não viessem para este lugar de sofrimento, ele pede para ir avisá-los ou que outra pessoa o vá. Em sua mente, Deus não fora claro o suficiente com ele e, se o fosse, ele não estaria onde ele está no momento.

Mas Abraão demonstra que isto não é verdade. A Bíblia sempre mostrou que devemos cuidar dos mais necessitados e que Deus não teria piedade dos que ignorassem seus filhos menos abastados. Ainda mostrou que nenhum milagre, inclusive a ressurreição de mortos, poderia converter alguém que ouve os apelos do Espírito Santo ao ler a Bíblia.

A parábola conclui a ideia que estava sendo discutida por todo o capítulo. Nós não temos amado como Jesus vem nos amando. O pior de tudo isto é que os apelos de Jesus não foram doces, como esperado da pessoa dele, mas ríspidos, pois suas histórias apelavam para o egoísmo humana para que este ajudasse o próximo. Ele quis mostrar que mesmo se seguisse a lógica egoísta da vida deles eles deveriam parar de acumular riquezas e ajudar o próximo.

Eu só desejo que eu e você não precisemos de receber um apelo ao nosso próprio egoísmo para fazermos o bem, mas o façamos guiado pelo Espírito bondoso de Deus.

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