terça-feira, 29 de dezembro de 2009

E o perdão?

Seguindo o raciocínio demonstrado na última postagem, como ficaria o caso do perdão?

Não pense que o raciocínio demonstrado anteriormente é próprio de minha pessoa. Além de estudiosos modernos, temos casos bíblicos que demonstram que rabinos já pensavam dessa maneira a muito tempo. Vejamos o texto:

"Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete". Mateus 18:21 e 22.

O raciocínio de Pedro demonstra o que se pensava normalmente na época de Jesus, que sete era o limite. Não era levado como um número simbólico, mas como literal. Jesus desmantela está interpretação, dando-lhe um número que ninguém pensaria em contar.

De forma alguma os textos da Bíblia Hebraica estavam indicando uma interpretação como esta, mas sim que Deus tem um limite para reter sua mão, não para perdoar o arrependido, pois este é seu desejo (Ezequiel 33:11). Da mesma forma, Ele não quer que limitemos nosso perdão.

Além disso, perdão e misericórdia trabalham juntos, mas de forma alguma são a mesma coisa. A misericórdia seria reter a justiça para o bem do transgressor, enquanto o perdão seria a aceitação de um pedido para se restaurar um elo ou estado anterior que foi quebrado pelo próprio solicitante*.

Claro que a muito o que se meditar entre as diferenças entre perdão e misericórdia (caso eu tenha cometido algum erro, por favor, me corrijam), mas a lição do Mestre está clara: seu perdão não tem fim [será? Mt 12:32] e nós devemos seguir seu exemplo, tendo sempre um coração desejoso de conceder o perdão.
______________
* Estas são minhas definições pessoais retiradas dos estudos bíblicos a respeito do assunto. Os dicionários aproximam muito os dois termos, tendo algumas entradas como sinônimas entre eles.

Misericórdia sem limites?

"As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade". Lamentações 3:22 e 23

Se chegarmos a pensar que o texto acima põe fim à discussão... bem, não põe?

Claro que para a teologia bíblica demonstra que os méritos da salvação pertencem somente a Deus, sendo assim, seus protegidos alvos de sua misericórdia eterna. Neste tipo de pensamento que o texto se encaixa.

Agora, a interpretação na qual o texto não se encaixa, numa exegese canônica, é a de que suas misericórdias não permitem a execussão de sua justiça.

Mesmo todos sendo alvo desta misericórdia, a justiça divina não permite que o mal dure para sempre (Apocalipse 21:8), tendo, deste modo, um limite o qual não pode mais retardar sua retribuição. Vejamos os textos:
"Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia". Gênesis 15:13-16
Segundo esse texto, Abrão só não tomou posse da terra por que o limite de injustiças que o amorreus estavam cometendo ainda não tinha se completado. Tem outro texto que ainda completa este tipo de pensamento:
"Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Damasco, e por quatro, não retirarei o castigo". Amós 1:3 (ARC)
"Assim falou Iahweh: Por três crimes de Damasco, e por quatro, não o [referindo-se ao castigo] revogarei". Idem (Bíblia de Jerusalém)
"Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Damasco e ainda mais por quatro, não anularei o castigo". Idem (NVI)
O número sete é um número que significa a completude na antiguidade do oriente médio (veja também Provérbios 6:16-19). Os textos acima, juntamente com o original, trazem a conjunção "e" e "waw" respectivamente, que podem ser interpretadas como aditivas. Interpretando dessa forma, vemos que há um limite ao qual Deus não pode mais retardar seu castigo. Seria a medida da iniquidade cheia.

Deus é muito paciente, tanto que muitos chegam a reclamar de tanta "impunidade" por parte dEle. Outros chegam até a caçoar do atraso de sua volta (II Pedro 3:4). Mas, segundo as Escrituras:
"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se". II Pedro 3:9

sábado, 26 de dezembro de 2009

Senso de Assombro.


"De modo geral, o mundo perdeu o senso de assombro. Crescemos. Já não perdemos o fôlego diante de um arco-íris ou do perfume de uma rosa, como acontecia antes. Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados e cheios de sabedoria do mundo".
MANNING, Brennan. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O Natal mais esperado!

Uma criança é algo fascinante, não é mesmo? Completamente dependente, não consegue, como no caso dos recém-nascidos de outros animais, viver sozinho assim que nasce.

Muito frágil e completamente dependente dos cuidados dos pais é o bebé humano. Ele exige o amor e a atenção dos pais, fazendo-os esquecerem-se de si próprios para cuidarem dessa nova criaturinha.

Todos que foram pais ou conheceram pessoas que se tornaram puderam sentir isso. E hoje, o mais incrível parto que já aconteceu está sendo comemorado.

Claro que pelos relatos deixam claro que o natal do menino Jesus não foi dia 25 de dezembro, data atribuída para misturar melhor as crenças cristãs com as pagãs na tentativa de tornar o império de Constantino mais uno.

Mas é um dia que devemos lembrar do bebê mais esperado, e aproveitar e relembrar o fato de um Deus ter se tornado neném. Sim, neném.

Um ser supremo, segundo os ensinamentos neotestamentários, se tornou criança e passou pelas nossas dificuldades. Ele vestiu nossa pele, e teve que se tornar dependente, assim como um bebê o é.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Filipenses 2:4-8.
Assim como Jesus se humilhou, nos deveríamos nos humilhar. Não deveríamos tratar nosso semelhante (entenda por isso "toda a humanidade") como alguém inferior nunca. Caso sejamos tentados em assim o fazer, que possamos nos colocar na posição inferior que nosso próximo se encontra, assim como Jesus fez para conosco.

Que possamos aprender com o exemplo do mestre. Tenham todos um feliz natal!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Contrato particular

Ontem, ao voltar de uma prova no metrô, estava refletindo na possibilidade de uma pessoa estar enganando outra para aumentar seus rendimentos através de uma mentira. Coisa de dizer que vai fazer tal coisa como dinheiro, mas na realidade só quer mais dinheiro.

Pensei na desonestidade disto, mas meus pensamentos não ficaram só aí. Eles chegaram até a adentrar nos pensamentos da outra pessoa e assumir que essa pessoa poderia considerar que estaria simplesmente estar reivindicando um direito seu de uma maneira mais amena.

No momento em que começou a passar por minha mente o fato de eu também poder reivindicar esse direito, fazendo com que disfrutassemos dos mesmos direitos, veio a mim seguinte resposta de Jesus para Pedro: "Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu." João 21:22; acompanhado também da parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20:1-16).

Ahn?!? Mas o que tam a ver?

Bem, o contexto do texto de João é incrível. João foi o único discípulo que não abandonou Jesus no momento mais crucial (literalmente) da história da humanidade. Mesmo o intrépido Pedro o negou em voz alta. Neste capítulo, logo após Pedro receber o perdão e estimulo do Mestre, Pedro começa a se questionar: "Se eu que o neguei fui posto para cuidar das ovelhas amadas do meu Mestre, o que será de João, que esteve com Ele nos momentos mais difíceis?" Neste contexto que vem a resposta de Jesus:
Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.

Do mesmo modo os trabalhadores da vinha que questionaram seu empregador, pois haviam começado o trabalho mais cedo e receberiam o mesmo salário, receberam uma resposta similar:
Amigo, não te faço agravo; não ajustaste tu comigo um dinheiro? Toma o que é teu, e retira-te; eu quero dar a este derradeiro tanto como a ti. Ou não me é lícito fazer o que quiser do que é meu? Ou é mau o teu olho porque eu sou bom?
Deus tem um contrato especial com cada um. Ele sabe das nossas dificuldades e fraquezas pessoais. Ele sabe que muitas vezes caímos e nos dá força para ser reerguidos. Ele sabe que muitas vezes somos tentados a seguir os maus exemplos de pecados que estão ao nosso redor, mas Ele repete "olhe para mim, não para o pecador! Eu sou seu Mestre! É comigo que você tem que se acertar, não com seu irmão".

Se nosso irmão pecou e foi perdoado, glória a Deus porque lhe concedeu misericórdia. Se nós permanecemos fiéis, glória a Deus pois é Ele que nos sustém.

Cada um de nós temos um contrato particular com Cristo. Nós fizemos promessas particulares e compromissos que muitas outras pessoas não fizeram. Por isso não devemos reinvindicar para nós direitos de outros. Jesus nós prometeu diversas coisas. Devemos confiar nas suas dádivas e deixar que Ele cuide dos compromissos que Ele fez com os nossos outros irmãos.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Espírito


O vocábulo "espírito" veio diretamente do vocábulo latino spiritus. Apesar de todo o imaginário moderno a respeito dessa palavra, seu significado inicial é "sopro" e "respiração".

Foi a palavra latina utilizada para traduzir a palavra grega* pneuma e a hebraica* ruaḥ, tendo ambas o significado de vento, sopro.

Dessa forma, o texto de Eclesiastes 12:7 ("E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu".) simplesmente refere-se ao famoso último suspiro, sendo esse o mesmo sopro de vida dado em Gênesis 2:7 e retomado na hora da morte.

O termo espírito não está preso apenas ao sopro de vida, mas é usado de diversas outras maneiras, mas sempre aproveitando o sentido básico da palavra.

Como o vento tem como característica o impulsionar tanto barcos, nuvens e diversas outras coisas,além de ser invisível mas poderoso e notável, os usos dados pela a Bíblia abrangem esses atributos que o mesmo tem.

Desta forma podemos entender melhor alguns textos bíblicos que aparecem traduzidos como espírito. Na maioria das vezes, quando aplicado a seres humanos, o espírito se refere ao que o impulsiona, motiva, inspira a fazer algo. Quando se refere a Deus (como João 4:24), muitas vezes nos faz refletir em Sua natureza, comparando-a à do vento.

Espero que tenha ajudado.
___________________

* Essas são as línguas que se acreditam serem as originárias dos textos bíblicos, sendo a língua hebraica a original do Antigo Testamento, tendo uma tradução helenísta (a septuaguinta), e a grega a originária dos textos neotestamentários. As versões latinas são traduções dos manuscritos dessas duas línguas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Ambiguidades como um meio de se contemplar a verdade.

Lembro-me de como fiquei impressionado ao ver minha professora de Psicologia da Educação começou a explicar os processos de aprendizado de uma criança através de hipótese, analise da hipótese e reelaboração da hipótese.

Para quem não entendeu patavinas, é o como as crianças elaboram sua compreensão de mundo. Ela encontra por observação ou por dogma alguma máxima e a aplica na realidade e quando confrontada se inicia um conflito interno para se responder a dificuldade encontrada em sua máxima.

Por exemplo, um aluno é indagado como é que o alimento se transforma em energia. A criança responde que depois de mastigarmos, os pedacinhos que engolimos são distribuidos para o resto do corpo. A professora, para tentar entender exatamente o que a criança quis dizer com aquilo, ela pergunta em forma de afirmação que então se ela cortasse com uma faca (Deus me livre) o braço e olhassemos dentro veriamos os pedacinhos de comida. A criança para e começa a pensar e refletir sobre aquilo, pensando em possibilidades de se entender melhor aquele conceito ou de até descartá-lo.

O conflito é totalmente necessário a educação. Para aprendermos temos que por em debate continuamente o que tomamos como verdade. Isto é o que a ciência propõe e, por mais que impressione, a Bíblia também.

Não é raro se ver ambiguidades no texto Bíblico. Ambiguidades estas que forçam-nos a repensar dogmas e doutrinas aprendidas em nossas casas de oração. A Bíblia tem partes dogmáticas, mas mesmo estas partes entrão em debate (nela mesmo) a todo o tempo.

O convívio com a ambiguidade é totalmente natural ao meio acadêmico, mas mal visto por muitos (não todos) religiosos por acreditarem que o canône sagrado não pode se contradizer.

O próprio Jesus apontava contradições na Bíblia, mas não de forma a diminuí-la, pelo contrário, de forma a levar os leitores e ouvintes a refletir na complexidade dos ensinamentos divinos.

Que possamos ser melhores aprendizes e que tomemos os conflitos e ambiguidades como formas de aprendermos da sabedoria expressa nesse livro maravilhos.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Homossexualismo definido geneticamente?


A revista Isto É desta semana vem com uma reportagem intitulada "11 perguntas que os cientistas ainda não conseguem responder" (veja aqui). A oitava dessas perguntas é exatamente sobre o título dessa postagem (veja aqui).

Fica claro aqui que não há um real consenso científico a respeito do assunto. Na verdade, o que está acontecendo é que muitas pessoas tentam usar a autoridade atribuida a ciência para diminuir os preconceitos (uma boa intenção, mas que leva a uma falsificação da realidade) que existem contra os homossexuais. Infelizmente uma mentira não ajuda em nada, só mascara a realidade complexa que há na homossexualidade.

Não sei se vocês já tiveram algum amigo gay que lhes disse: "Como pode ser errado, pois Deus me fez assim", usando os argumentos incertos, passados como certos pela maior parte da mídia.

Esse costume está tão arraizado que homens adulteros usam o mesmo argumento dito científico para mostrar que só está seguindo o que ele está geneticamente disposto. Imagine se pedófilos e estrupadores começarem a se apoiar na ciência para justificarem seus erros. Imaginem se ladrões e assassinos fizerem o mesmo. As prisões ficaram mais e mais vázias.

Nossas paixões sexuais não podem ficar presas a falsas afirmações que são chamadas ciência. Deus definiu nossa orientação sexual na criação do mundo e o que passa disto é desvio.

Felizmente, a Bíblia apresenta uma salvação para todos aquele que não encontra força para vencer o pecado. Não é porque nós erramos em nossa vida sexual (ou em qualquer outro aspecto) que a palavra divina nos deixa desamparado.

Davi, que cometeu adultério seguido de mentiras e assassinatos pediu uma simples coisa a Deus:
"Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto". Salmo 51:10
O "Cria" (barah) refere-se a um verbo que só é usado na ação criativa de Deus (veja nota do verso na Bíblia de Jerusalém, p. 916 nota a) que faz surgir algo do nada. Davi então está reconhecendo que só Deus pode fazer um coração diferente, e também diz que o seu atual coração não tem nada de proveitoso, pedindo que Deus o crie do nada.

O verdadeiro desejo de Deus para o pecador é:
"Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?" Ezequiel 33:11.