segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Por que Deus não nos protege de todo o mal?

"...mas livra-nos do mal...." Mateus 6:13
Acredito que ainda éramos adolescentes, quando um dos meus melhores amigos, o qual desde sempre mostrou interesse em discutir e pensar sobre Deus e as questões da fé, abordou-me com o seguinte pensamento, depois de explicá-lo sobre algumas questões sobre Deus permitir o sofrimento humano:

"Eu tenho um filho. Eu o protejo de todos os males, inclusive com minha própria vida. Por quê, então, Deus que é nosso pai não nos protege também?"

Lembro-me que sua expressão de dor era tão verdadeira que não respondi nada. Se respondi, acho que era algo que talvez nem me convenceria. Ele estava sendo sincero. Sua necessidade de Deus era real, assim como a indagação que ele fizera.

Normalmente respondemos essa questão com o livre arbítrio, a eterna liberdade que temos entre escolher o mal e o bem, mas não vejo que é exatamente esse ponto que está em discussão aqui.

Nessa discussão acaba passando ainda pela origem do mal, o porquê dos bons sofrerem, da onipotência e bondade divina se contradizerem e assim vai.

Um livro inteiro da Bíblia nos ajuda a refletir sobre essas questões: o livro de Jó.

Mas antes vamos tentar responder a questão inquietante de meu amigo, o qual não respondi a contento ao mesmo até hoje. Espero que agora possa fazê-lo.

O quanto protegemos nossos filhos? Totalmente? Inclusive sobre perigos de cair, tropeçar, sujar-se, gripar-se, e assim por diante?

Hoje sabemos das desvantagens de cercar demais nossos filhos dos perigos que rondam eles. Isso os torna inseguros, dependentes e não enxergarem problemas para evitar e quando em problemas, terem uma maior dificuldade de lidar com eles. A famosa frase "seu filho precisa ganhar anticorpos" é bastante repetida aos pais hiperprotetores.

Claro que não proteger o filho de nada é outro extremo que deve ser evitado. O sábio é realmente observar os riscos que o filho corre e ponderar sobre se deve ou não passar por ele.

Riscos de cair num barranco, ser atropelado, ficar com alguém suspeito, crianças pequenas sozinhas em casa são obviamente coisas que não devemos permitir nunca. Deste modo, um pai que ama o filho dá certa liberdade para ocorrer algum mal com o filho, sempre controlando para que o dano não seja irreparável, cortando qualquer coisa que estiver em seu poder para prejudicar seu filho permanentemente.

Talvez seja nessa parte do dano permanente que meu amigo quis falar sobre como protegia o filho. Nós, que temos muito pouco controle do que pode acontecer com nossos filhos, ainda assim temos que agir desse modo para o melhor desenvolvimento deles, imagine Deus, que tem poder para reparar qualquer dano físico ou psicológico feito por qualquer inimigo aos Seus filhos preciosos, deveria agir!

Deus tem o controle de tudo, inclusive a morte. É essa a mensagem que ele deixa para Jó no final de seu livro (Jó 38-41).

Veja o enredo de Jó. Jó é um homem integro, temente a Deus e se desvia do mal e por isso é alvo de Satanás ao ver o Supremo Criador elogiando este tão inspirador servo. Veja que Satanás não quer destruir somente os bens, família e saúde de Jó, mas sim a vida (Jó 2:3). Deus permite Jó perder tudo, mas limita a ação de Satanás, protegendo o que ele mais queria tirar, a vida de Jó. Depois de perder tudo, e ser tentado pela mulher a desistir de Deus e morrer (assim como Satanás queria), Jó encontra os amigos e mostra sinais claríssimos de depressão.

Seus amigos tentam consolá-lo e mostrar o caminho, mas acabam acusando a Jó de cometer um terrível pecado, apresentando a ele que só isso explicaria tamanhos males em sua vida. Jó se defende, e no processo acaba falando algumas barbáries sobre Deus. No fim, Deus aparece para Jó e mostra a Jó que ele não é capaz de entender todo o plano divino. Jó não pode nem entender a criação, muito menos entenderia o Criador. Jó reconhece que não conhecia a Deus como agora o conhece. Repare, esse conhecer veio do fato de ele se reconhecer como incapaz de perscrutar todos os motivos divinos para o seu sofrimento. Deus repreende os amigos de Jó e pede para Jó interceder por eles. A sorte de Jó é restaurada. Seus bens são dobrados e mais dez filhos lhe nascem.

Veja: Deus limita o dano, mas permite o mal. Os seus filhos passam por sofrimento, crescem e tem a sorte restaurada. Agora comparem a esses textos:
também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência,E a paciência a experiência, e a experiência a esperança.E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
Romanos 5:3-5
Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações;Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência.Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.
Tiago 1:2-4
Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações,Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo;Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso;Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.
1 Pedro 1:6-9
Infelizmente não estamos mais no paraíso criado por Deus e seja lá qual for a criatura que nascer nesse planeta mal, ela sofrerá. Sofrer faz parte da vida. Depende de nós se sofreremos por nada ou para crescermos em graça perante Deus e os homens.