sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Duas verdades não podem se contradizer (Galileu)

"[...] a Sagrada Escritura não pode nunca mentir ou errar, mas serem os seus decretos de absoluta e inviolável verdade. Só teria acrescentado que, se bem a Escritura não pode errar, não menos poderia às vezes errar algum dos seus intérpretes e expositores, de vários modos. Entre estes, um seria muitíssimo grave e frequentemente; quando quisesse deter-se sempre no puro significado das palavras; porque, assim, apareceriam aí não apenas diversas contradições, mas graves heresias e mesmo blasfêmias. Posto que seria necessário dar a Deus pés, mãos e olhos e não menos afecções corporais e humanas como ira, de arrependimento, de ódio e mesmo, às vezes, de esquecimento das coisas passadas e de ignorância das futuras. Donde, assim como na Escritura encontram-se muitas proposições, as quais, quanto ao sentido nu das palavras, têm aparência diversa do verdadeiro, mas foram apresentadas deste modo para acomodar-se à incapacidade do vulgo, assim, para aqueles poucos que merecem ser separados da plebe, é necessário que os sábios expositores mostrem os sentidos verdadeiros e acrescentem-lhes as razões particulares por que foram proferidos sob tais palavras.
[...]
"Assentado isto e sendo ademais manifesto que duas verdades não podem nunca contradizer-se, é ofício dos sábios expositores afadigar-se para encontrar os sentidos verdadeiros das passagens sagradas concordantes com aquelas conclusões naturais, das quais, primeiro o sentido manifesto ou as demonstrações necessárias nos tiver tornado certos e seguros".

Carta a Dom Benedetto Castelli IN: GALILEU Galilei. Ciência e fé: Cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a Bíblia. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 18 e 20.

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