domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Idade da Razão

A Idade da Razão é um romance filosófico de Jean Sartre onde seu clímax é alcançado ao fim da obra onde o personagem principal se encontra na "idade da razão".

O que seria esta "idade da razão"? Segundo a obra, seria exatamente o momento que o homem descobre sua nulidade. Exatamente! O momento em que o homem entende que ele não é nada e que todos os seus sentimentos, desejos e aspirações são temporárias e condicionais. É um momento que entendemos que nada somos e para lugar nenhum iremos. É uma noção triste e pessimista sobre a realidade humana, mas para o ser que está passando pela idade da razão é visto como apenas "realidade".

Para Sartre, esse conceito é um conceito motivador das verdadeiras obras. Depois de aceitar sua verdadeira realidade nulificada é que encontramos real motivação para viver e construir propósitos e lutas. Sartre era um filósofo ativista ateu e acredito que seus pressupostos saíram de experiências pessoais, pois não entendo muito bem de onde ele concluí isto ou como o saber do nada, em seus conceitos, poderiam motivar alguém. Talvez não entenda por não ler as duas obras seguintes, as quais continuam a trilogia "Os caminhos da liberdade".

Já um amigo e rival tem uma opinião um pouco mais semelhante a minha a respeito da "idade da razão". Albert Camus, em seu livro A Queda, descreve a vida de um homem boêmio que amava seu estilo de vida e a intensidade em que vivia. Ao se deparar com a "idade da razão" ele perde todo o sentido de sua vida. Ao descobrir que suas atitudes não tem real valor, que sua vida é vazia e falta significado ele entra num estado de desespero amplo, não encontrando caminho para onde ir.

Chegando ainda ao cúmulo desta noção, temos a obra O Estrangeiro do mesmo autor, onde a personagem principal mostra sua indiferença enquanto a todos os aspectos de sua vida. Ele é um personagem extremamente neutro em todas as situações em que vive, se preocupando exclusivamente com os sentimentos imediatos de seu ser, não se importando com seu futuro. Sua nulidade é tão grande que não teme a pena pelo assassinato que cometera. Nem a promessa de um Céu poderiam lhe motivar uma defesa ou confissão de pecados para ter alguma esperança futura de vida. Com este exemplo horrendo sobre a "idade da razão", Camus tenta deixar claro sua filosofia a respeito da idade da razão e de sua negatividade para a sobrevivência e motivação humana.

Mas estes sentimentos de vazio tão existentes no existencialismo nascido no século XIX e que encontrou sua expressão máxima na primeira metade do século XX não é tão recente na história da humanidade. O livro hebraico chamado na Bíblia cristã de Eclesiastes já continha estas noções de vazio e nulidade. A resposta a este vazio estava contida no prazer expresso nas pequenas coisas do viver diário e na obediência a Deus, preparando o ser para o encontro com O próprio no juízo vindouro.

Claro que este pessimismo não é comum a bíblia hebraica, mas a noção do vazio humano e de sua total dependência de Deus é notória por todas as páginas antigotestamentárias.

Este vazio é reafirmado e intensificado nas páginas de Paulo em sua carta aos romanos:
Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado;
Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer.
Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus.
Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.
A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;
Cuja boca está cheia de maldição e amargura.
Os seus pés são ligeiros para derramar sangue.
Em seus caminhos há destruição e miséria;
E não conheceram o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos.
Romanos 3:9-18
Este é o conhecimento que todo cristão deve ter de si e de sua situação perante Deus. Sim, é a "idade da razão" sartreana. Mas Deus também vê como Camus via. Idade da razão sem esperança é morte. Por isso a solução Cristã para este autoconhecimento da realidade é não depender de si mesmo, mas dos méritos e poder de outro ser:

Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
João 15:5
Ter consciência de nossa inconstância e contradições diárias nos faz entrar na "idade da razão", mas a Bíblia apresenta Alguém que é maior que nossas falhas e mais misericordioso também. Que possamos ter esperança no amanhã, pois nossa vida tem propósito ao lado de Cristo.

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