terça-feira, 29 de março de 2011

Adoração

São muitas as palavras hebraicas que traduzimos como "adoração" e seus derivados. Uma delas vem da raiz עָבַד (‘abad), trabalho, serviço, demonstrando o caráter serviçal na adoração. A palavra grega usada na septuaginta é latreia, e tem o mesmo aspecto laboroso. Um exemplo de texto que utiliza esta palavra é o de Deuteronômio 6:13, o qual nosso Senhor Jesus utiliza para vencer a tentação que Satanás o lança em Mateus 4:9-10.


Mas não é neste aspecto laboroso que gostaria que nós nos fixassemos nesta postagem. As outras duas palavras hebraicas fazem referência a uma prática muito ligada a oração: o prostrar-se, reverenciar, ficar de joelhos, lembrando os significados do verbo inglês to bow.


Quando os amigos de Daniel negaram se adorar o ídolo de ouro (Daniel 3:18), a palavra usada para isso veio da raiz סָגַד (sagad) ou seja, inclinar-se, prostrar-se, dar honra.

Já em Êxodo 33:10, a palavra usada é הִשְׁתַּחֲוָה (hištaḥawah), que trás este sentido de enclinar-se, prostrar-se também. A palavra grega usada na septuaginta é proskyneõ e é essa palavra que é levada para o novo testamento em texto como João 4:22-24 e Apocalipse 19:10, o qual gostaria de me deter mais.

Se vocês prestarem atenção, há vários textos de Apocalpse que a adoração está ligada ao prostrar-se, como se o sentido da mesma não fosse somente este, mas ligado a ele (Ap. 4:10; 5:14; 7:11; 11:16; 19:4; 19:10; 22:8 e 9). O próprio contexto em que Jesus diz que adoraremos "em Espírito e em verdade" nos deixa claro que não é apenas curvar-se ou prostrar-se, mas vai além. Vejamos o texto abaixo:
E eu lancei-me a seus pés para o adorar; mas ele disse-me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.
Apocalipse 19:10 (veja também 22:8 e 9).
Este é um simples exemplo que não devemos nos curvar a ninguém, muito menos aceitarmos que se curvem a nós. A verdadeira adoração é muito mais complexa que isso, mas inclui o prostrar-se somente a Deus. No livro de Ester temos Mordecai sendo perceguido por não se prostrar para um superior hierárquico, jovens hebreus resistirem ao fogo por não se curvarem a outros deuses, Pedro mandou Cornélio se levantar dizendo que era homem como ele (Atos 10:25-26) e por duas vezes um anjo fez o mesmo com o apóstolo João.

Se um anjo, ser muito superior nós, não aceitou adoração, quem somos nós para aceitarmos? Mesmo que se sinta inferior a outro ser humano, também temos noção, seguindo a palavra do anjo, que somente devemos adorar a Deus. Ele é o único que devemos prestar culto e nos curvar.

Você que é cristão, não escandalize os demais se curvando seja lá para o que ou para quem for. Só Deus deve receber este tipo de reverência.

segunda-feira, 7 de março de 2011

A escravidão e a Bíblia

Uma vez eu citei numa rede social (o orkut, mais especificamente) que a escravidão na Bíblia era uma das mais brandas e revolucionárias de toda a antiguidade. Um membro ateu, que estava lá para mexer com os ânimos da comunidade cristã, zombou indagando como isso seria possível.

Bem, até a Wikipédia, site que não é de todo confiável como informação, confirma isto (veja aqui). O sistema escravista era predominante no mundo conhecido, mas os tipos de escravidão variavam muito. Desde presos de guerra a vendas por pagamento de dívidas aconteciam.

Jesus mesmo dá evidências disto. Na parábola do credor incompassivo, vemos um senhor que iria vender o homem que lhe devia e toda a sua família e objetos para receber a dívida (Mateus 18:25, veja também Levítico 25:39) A escravidão era, claramente, um meio de garantia dos que pediam empréstimos pagarem suas dívidas.

Mesmo este tipo de escravidão não agradava a Deus. Apesar da compra de escravos não ser proibida (Levítico 25:44-46) Em Êxodo 21:16 mostra claramente que fazer um escravo pela força não era aceito, tanto que era punido com a morte. Veja na versão da Nova Tradução da Linguagem de hoje:
Quem levar à força uma pessoa para vendê-la ou para ficar com ela como escrava será morto.
Infelizmente, isso não significa que os israelitas não fizeram isto. Além disso, Deus colocou muitas outras leis que protegiam os escravos de seus senhores (veja Êxodo 21 e Levítico 25). Se um senhor pegasse uma escrava como mulher e depois quisesse pegar outra mulher para si, caso ele não conseguisse manter o mesmo padrão de vida para ela a lei libertaria a esposa escrava. Mais uma vez Deus mostra tolerância para com os costumes humanos, mas sempre apontando para onde ele quer que seus filhos cheguem.


O tratamento que a Bíblia dá aos seus escravos é tão diverso da escravidão que costumamos ver nos livros escolares que muitos tradutores não gostam da palavra "escravo", usando no lugar dessa a palavra "servo".


Mesmo Deus permitindo, e NÃO incentivando, não significa que ele desumanizou estes homens e mulheres que viviam sobre a posse de outra pessoa. Levítico deixa claro que são escravos por dedicarem sua força laborial ao seu dono. Outras incumbências e abusos tinham seu nível de punição na lei. Além disso, veja o que Paulo nos mostra a respeito da igualdade entre os seres humanos:
Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus.
Gálatas 3:28
 Um dia todo o mal irá cessar, e Deus não permitirá mais nenhuma injustiça.

Nos firmemos nele até lá.

domingo, 6 de março de 2011

6-...ninguém vos julgue pelo[s]... sábados...

Muitos aplicam esse texto de Colossenses 2:16 como a ordem para parar de guardar o sábado. Já outros, mais sinceros, assumem que o texto não fala isto, mas que a guarda do sábado perdeu a obrigatoriedade. Tanto pode ser guardada quanto não, pois isto não importa mais, só Cristo.

Confesso que essa última é mais sútil e sedutora, mas seria isto que o texto vem dizendo? A interpretação de não julgar seria não obedecer mais o mandamento ou de não criticar o modo de guardá-lo? Com certeza a leitura crua e não tendenciosa do verso 16 nos sugere o segundo.

Mas o que o contexto nos mostra? Vejamos a continuação do texto:
Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão,
E não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus.
Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como:
Não toques, não proves, não manuseies?
As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens;
As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.

Colossenses 2:18-23
 Veja que ele não proíbe ou comuta a prática do mandamento, mas falou para não se importar (não julgar) com os acréscimos dados pelos homens ao mandamento. Segundo o autor de Hebreus, o sábado do sétimo dia não é um dia dado pelo homem, mas por Deus (4:4 e 7), que não é novidade, pois o próprio Deus cita que foi ele quem deu os sábados para nós (Ezequiel 20:12). Em suma, esse texto, de forma alguma desaltoriza ou relativiza a ordem de se lembrar do sétimo dia para o guardar, como diz o 4º mandamento (Êxodo 20:8-11).

Aproveitando esse estudo de Colossenses 2, gostaria de mostrar que o verso 14 não diz que os dez mandamentos foram destruídos, cessaram ou perderam sua importância na cruz. Os mandamentos, principalmente os dez de Êxodo 20:1-17, não são contra nós, mas protegem a nós e a toda a sociedade. Mas a falta de praticá-los nos leva a condenação, pois o real mandamento que é contra nós é:
Então disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro.
Êxodo 32:33
ou seja:
... a alma que pecar, essa morrerá.
Ezequiel 18:4
Isto que foi cravado na cruz. Nós pecamos, mas nossa divida não foi paga com nossa morte, mas com a de Cristo, por isso ela foi cravada na cruz. Atualmente, nenhum pastor sensato de qualquer religião cristã prega que os mandamentos foram abolidos na cruz, pois ele não admite que haja adultério, assassinato ou qualquer outro dos 10 mandamentos [infelizmente, com excessão do sábado] seja quebrado em sua congregação (Confirme a validade dos 10 mandamentos em Tiago 2:8-12, ou faça um pesquisa na palavra mandamento no novo testamento e veja como ele é confirmado, principalmente em Apocalipse).

Espero que tenha ficado claro.

Deus os abençoe sempre.
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Estudo anterior: 5-Os apóstolos e o dia de descanso
Próximo estudo: 7-O dia de descanso a partir do segundo século a.C.

Obs.: Já peço desculpas pela demora que terei em publicar o último estudo dessa série, pois gostaria de apresentar um material bibliográfico rico e estou sem tempo por causa da nova faculdade que estou fazendo. Acredito que até o meio do ano consigo cumprir meu compromisso com vocês. Perdoem-me.

Torre de Babel: Mito ou verdade?


Mais uma reportagem da isto é enfocando histórias bíblicas.

Vale a pena ler. O link é este, clique aqui.